“Pára-me de Repente o Pensamento” é o título de um
documentário que retrata as particularidades e o quotidiano vivido num dos
hospitais psiquiátricos mais antigos de Portugal, o Centro Hospitalar Conde de
Ferreira no Porto.
O título do documentário é também o título de um poema do
pintor Ângelo de Lima que fez parte da revista Orpheu e que foi também paciente
esquizofrénico deste mesmo Hospital. Miguel Borges é um ator que vem do mundo
exterior para construir o seu personagem, mergulhando no mundo interior das
pessoas que estão naquele hospital.
Enquanto espectadores, este é um documentário capaz de nos
tocar profundamente e levantar um
conjunto de questões sobre a condição humana, despertando em nós reacções
emocionais tão diferentes que podem ir do riso ao “nó na garganta”.
A possibilidade que temos em escutar estas pessoas e em
compreender as suas histórias de vida, pensamentos, medos, alegrias e
esperanças, permite-nos ter um olhar mais próximo delas, bem como a noção da
dimensão da sua humanidade, dignidade e sabedoria. Sabedoria essa que vai muito
além daquilo que os livros ensinam mas que se funda primordialmente em
experiências de vida de um valor inestimável.
A fragilidade e a
força que delas emana a par da generosidade das suas partilhas, sem
carapaças e armaduras às quais estamos tão habituados, são ao mesmo tempo
desarmantes e comoventes.
Curioso é pensar, como a dificuldade que muitas vezes temos
em olhar para estas pessoas se prende com a nossa própria dificuldade em
contactar com a nossa fragilidade, vazio e medo do abismo e como muitas vezes,
à semelhança do título do documentário, desejaríamos que a mente nos desse
tréguas e parásse por um instante.
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