Quando damos início à construção de uma
casa preocupamo-nos com os fortes alicerces, com um bom material, com uma
construção com medidas fidedignas, porque sabemos que caso algum destes
aspectos não for tido em conta, podemos estar a colocar em causa toda a
construção. E se por acaso quando estivermos já no momento das pinturas nos
apercebermos que a parede está torta, temos que a deitar abaixo para fazer uma
nova parede direita. Mas algumas vezes só nos podemos aperceber que ela está
torta quando a vamos pintar ou apenas quando vamos colocar um quadro e ele ficar
também torto...
Por vezes há momentos em que a nossa
vida vai seguindo, vamos fazendo coisas e parece que está tudo bem, até que
tentamos fazer algo e nos apercebemos que não conseguimos, apesar de até tentarmos
de muitas formas diferentes. Mas e se esse insucesso não estiver relacionado
com as nossas competências? Ou quando as nossas próprias competências poderem
ter sido desenvolvidas segundo uma parede sempre torta? E quando nos
apercebermos que sempre acreditámos em algo que nos fez sentido toda a vida,
até este preciso momento?
Há situações em que parece que, por
maior que investimento que fizermos ou mais tentemos avançar, algo está
estagnado sem permitir o seguir em frente, nem permitindo a nossa concretização
quer pessoal e relacional, como a profissional. E quantas vezes nessa altura
nos podemos sentir confusos sem perceber a razão... E, na verdade, muitas vezes
a razão pode estar mesmo em nós, nas nossas crenças.
São as nossas crenças que criam a
construção da nossa realidade, e a realidade é única para cada um de nós: a
nossa forma de olhar, de perspectivar, de pensar, de sentir, de interpretar, de
agir... Somos nós que criamos a nossa própria realidade.
As crenças são adquiridas a partir de
muito cedo da nossa existência, desenvolvidas e mantidas através de toda a
nossa experiência de vida. Tudo o que somos no presente é a soma das nossas
experiências, a forma como nos tratamos a nós próprios e como nos vemos, tem
muito a ver com a forma como fomos tratados e olhados quando crianças e jovens.
Isto significa que podemos chegar a um momento em que nos apercebemos que não
acreditamos que tenhamos a capacidade de, por exemplo, criar o nosso negócio, ou
que não somos merecedores de alguém que nos trate bem, e que é essa crença que
nos está a boicotar de seguir em frente com esse projecto profissional ou
relacional. Mas e essas crenças que nos direcionaram até agora têm que ser necessariamente
verdadeiras? Mas e se essas crenças nos estiverem a boicotar a possibilidade de
atingir o que realmente é importante no presente?
Para podermos avançar com novas formas
de nos vermos, temos que desconstruir a base, para reconstruirmos essa imagem
de uma maneira mais funcional e saudável, que nos permita avançar para o que
nos faz sentido no presente, para o nosso bem-estar, sem amarras do passado.
Quando essas amarras perduram temos a tendência de procurar e de dar uma maior
atenção às ideias e situações que confirmam as nossas crenças, fortalecendo-as e
solidificando-as assim cada vez mais, e ignoramos ou damos menor importância às
evidências que vão contra a nossa crença, comprometendo a nossa capacidade de
avaliar e interpretar as situações.
É a consciência das nossas crenças que nos
pode fazer decidir desconstruí-las (pondo à prova a sua funcionalidade, a sua
verdade, a sua adequação) para conseguirmos criar em nós uma maior harmonia e
bem-estar connosco e com os outros.
Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
Artigo escrito para a Revista Psicologia da Actualidade - encontra-se na edição nº 40, Janeiro- Fevereiro 2018
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