terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Desconstruir para reconstruir

Quando damos início à construção de uma casa preocupamo-nos com os fortes alicerces, com um bom material, com uma construção com medidas fidedignas, porque sabemos que caso algum destes aspectos não for tido em conta, podemos estar a colocar em causa toda a construção. E se por acaso quando estivermos já no momento das pinturas nos apercebermos que a parede está torta, temos que a deitar abaixo para fazer uma nova parede direita. Mas algumas vezes só nos podemos aperceber que ela está torta quando a vamos pintar ou apenas quando vamos colocar um quadro e ele ficar também torto...

Por vezes há momentos em que a nossa vida vai seguindo, vamos fazendo coisas e parece que está tudo bem, até que tentamos fazer algo e nos apercebemos que não conseguimos, apesar de até tentarmos de muitas formas diferentes. Mas e se esse insucesso não estiver relacionado com as nossas competências? Ou quando as nossas próprias competências poderem ter sido desenvolvidas segundo uma parede sempre torta? E quando nos apercebermos que sempre acreditámos em algo que nos fez sentido toda a vida, até este preciso momento?

Há situações em que parece que, por maior que investimento que fizermos ou mais tentemos avançar, algo está estagnado sem permitir o seguir em frente, nem permitindo a nossa concretização quer pessoal e relacional, como a profissional. E quantas vezes nessa altura nos podemos sentir confusos sem perceber a razão... E, na verdade, muitas vezes a razão pode estar mesmo em nós, nas nossas crenças.

São as nossas crenças que criam a construção da nossa realidade, e a realidade é única para cada um de nós: a nossa forma de olhar, de perspectivar, de pensar, de sentir, de interpretar, de agir... Somos nós que criamos a nossa própria realidade.

As crenças são adquiridas a partir de muito cedo da nossa existência, desenvolvidas e mantidas através de toda a nossa experiência de vida. Tudo o que somos no presente é a soma das nossas experiências, a forma como nos tratamos a nós próprios e como nos vemos, tem muito a ver com a forma como fomos tratados e olhados quando crianças e jovens. Isto significa que podemos chegar a um momento em que nos apercebemos que não acreditamos que tenhamos a capacidade de, por exemplo, criar o nosso negócio, ou que não somos merecedores de alguém que nos trate bem, e que é essa crença que nos está a boicotar de seguir em frente com esse projecto profissional ou relacional. Mas e essas crenças que nos direcionaram até agora têm que ser necessariamente verdadeiras? Mas e se essas crenças nos estiverem a boicotar a possibilidade de atingir o que realmente é importante no presente?

Para podermos avançar com novas formas de nos vermos, temos que desconstruir a base, para reconstruirmos essa imagem de uma maneira mais funcional e saudável, que nos permita avançar para o que nos faz sentido no presente, para o nosso bem-estar, sem amarras do passado. Quando essas amarras perduram temos a tendência de procurar e de dar uma maior atenção às ideias e situações que confirmam as nossas crenças, fortalecendo-as e solidificando-as assim cada vez mais, e ignoramos ou damos menor importância às evidências que vão contra a nossa crença, comprometendo a nossa capacidade de avaliar e interpretar as situações.

É a consciência das nossas crenças que nos pode fazer decidir desconstruí-las (pondo à prova a sua funcionalidade, a sua verdade, a sua adequação) para conseguirmos criar em nós uma maior harmonia e bem-estar connosco e com os outros.

Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.

Artigo escrito para a Revista Psicologia da Actualidade - encontra-se na edição nº 40, Janeiro- Fevereiro 2018


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