Esta é por excelência a semana para
refletirmos no conceito “Liberdade”.
Fez ontem precisamente 43 anos que caía o
regime ditatorial em Portugal para dar lugar à democracia, passando os
portugueses a usufruir de liberdade de expressão.
Contudo, os mecanismos de autocensura aos
quais muitos de nós estamos sujeitos conseguem exercer uma fiscalização e uma
punição ainda mais rigorosas que qualquer instituição externa de ordem social
ou religiosa, não nos permitindo o usufruto em pleno da nossa liberdade
individual. Quando assim é, impera a renúncia das próprias vontades, desejos e
opiniões por medo da rejeição e do julgamento.
O indivíduo interioriza que só é aceite e
amado enquanto for um prolongamento do desejo do outro e corresponder às suas
expetativas. Embora esta possa ter sido uma vivência experienciada
precocemente na infância e indutora de sentimentos de zanga e revolta, a criança,
frequentemente para proteger as figuras amadas da sua zanga,
acaba por dirigi-la contra si mesma, dando lugar à
auto-recriminação.
A culpa decorrente destes impulsos
agressivos em relação às figuras amadas, motiva a necessidade de punição, sendo
responsável por perpetuar o impulso inconsciente para o sofrimento pela forma
de auto-recriminações e auto-punições que se traduzem frequente em quadros de
depressão, ansiedade ou somatização.
A psicoterapia pretende libertar o
indivíduo destas amarras interiores, pelo reconhecimento e pela vivência dos
sentimentos reprimidos no aqui-e-agora, possibilitando a elaboração dos
conflitos não resolvidos do passado e que estão muitas vezes na origem da
repetição de padrões relacionais disfuncionais.
Clinicamente, a compulsão à repetição é
entendida como um processo inconsciente pelo qual o indivíduo tende a repetir
situações aflitivas e padrões relacionais disfuncionais, com a finalidade de
dominar a experiência traumática. Nas palavras de Freud: “O que permaneceu
incompreendido retorna; como uma alma penada, não tem repouso até encontrar
resolução e libertação”.
Para cessar essa necessidade de repetir o
trauma importa a consciencialização e a expressão dos sentimentos reprimidos,
relacionados com o sofrimento vivenciado.
Neste semana em que comemoramos a conquista da liberdade,
não esqueçamos o papel da psicoterapia no desenvolvimento da
liberdade emocional do indivíduo, capacitando-o para vencer as forças
opressoras que o impedem de se conhecer verdadeiramente, de se aceitar e de ser
feliz. Só a verdade liberta e abre a possibilidade para uma vida plena e
criativa.
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