Há momentos em
que de forma mais, ou menos, esperada, damos por nós sem chão. Olhamos,
procuramos à volta... e não vemos.
Não estamos
sequer suspensos, estamos... ali. Sem chão. Sem nada que nos sustente. Como se
permanecessemos naquela fracção de segundos antes de começarmos a cair... em
queda livre.
Mas também não
estamos a cair... Estamos ali, angustiados. E, ainda que possamos ter uma
restiazinha de esperança... estamos apavorados pela certeza de que vamos cair...
E magoar-nos! Pior, não sabemos como é que vamos cair... quando é que vamos
(finalmente?) cair, ou quanto nos vamos magoar. Ou ainda, em última instância,
se vamos sequer sobreviver à queda. Não sabemos como é que se vive sem chão. Achamos
muitas vezes que talvez nem seja possível fazê-lo.
E, no entanto, fazêmo-lo.
Aprendemos pela experiência... Como um bebé que é atirado à água ainda antes de
ter aprendido a nadar, e instintivamente se move de forma a manter-se à tona,
vamos, avançamos, deixamo-nos cair, ou reagimos antes da queda. Mas vivemos.
Por vezes,
chegamos lá a baixo, ao fundo... e é muitas vezes aí que temos a oportunidade
de recomeçar. De pés assentes, subir de novo.
Mas, tantas
vezes, uma nova angústia, um outro momento de desespero, de solidão, diz-nos
que não somos capazes, que não vamos conseguir, sem esperança.
Esta é uma
“emoção”, um conceito, cuja reputação deixa, frequentemente, algo a desejar.
Por vezes podemos achar que é uma característica associada a quem ingenuamente
vive feliz na ignorância. No entanto, esta característica, ou mesmo
competência, é essencial.
Não é ela, por si
só, que nos vai “salvar”, ou cumprir os nossos objectivos. Mas ajuda.
Quem tem
esperança, tem também o desejo e a determinação de que os seus objectivos vão
ser alcançados, e tem ainda uma série de estratégias (e a capacidade para as
procurar e encontrar) para atingir esses objectivos ao seu dispor. A esperança
permite-nos olhar os obstáculos com a perspectiva confiante de quem vai conseguir
ultrapassá-los e, por isso, estamos mais dispostos a olhar à volta, a procurar
formas, caminhos, ferramentas, para o conseguirmos. Ou seja, a esperança não
corresponde apenas à vontade ou desejo de se chegar a determinado lugar, mas
também às diferentes formas para lá chegar.
Ana Luísa Oliveira escreve de acordo com a antiga ortografia.
Sem comentários:
Enviar um comentário