Cuidar de nós próprios, ter momentos de autocuidados é o que nos permite estar bem, equilibrados, estáveis e só dessa forma podemos de forma saudável apoiar e darmo-nos aos outros sem nos fazermos mal. Cuidar de nós próprios não nos torna pessoas egoístas!
Serviços de Psicologia Clínica e Psicoterapia (Consultórios em Lisboa e Caldas da Rainha)
segunda-feira, 18 de abril de 2022
Cuidar de mim não me torna egoísta!
Cuidar de nós próprios, ter momentos de autocuidados é o que nos permite estar bem, equilibrados, estáveis e só dessa forma podemos de forma saudável apoiar e darmo-nos aos outros sem nos fazermos mal. Cuidar de nós próprios não nos torna pessoas egoístas!
segunda-feira, 14 de março de 2022
Educando para a Empatia e Não-Violência em Tempos de Guerra
Vivemos atualmente num contexto de conflito armado e num clima
emocional de incerteza, insegurança e medo.
Também nas escolas, desde há muito tempo,
que se vivem “guerras”, verdadeiros atentados à dignidade e integridade
psicológica de muitos alunos, vítimas de bullying físico, verbal e social
(exclusão). O cyberbullying é hoje uma realidade caracterizada pelo uso da
tecnologia para assediar, ameaçar e humilhar outra pessoa de forma repetida.
Pode acontecer em qualquer local, a qualquer hora e atormentar alguém 24h por
dia, perante centenas de testemunhas, sem nunca ficar revelada a verdadeira
identidade do agressor. As vítimas podem sentir-se encurraladas e desenvolver
problemas de saúde psicológica, como a ansiedade e depressão e cometer
suicídio.
À semelhança do que acontece na sociedade, também nas
escolas impera o paradigma da competitividade, em que o crescimento do próprio
se faz pela anulação do outro. É a teoria da soma zero, em que aquilo que eu
ganho é aquilo que o outro perde e que conduz ao desenvolvimento de seres
humanos mais insensíveis, desafetados e pouco empáticos. Essa indiferença
emocional é visível nas escolas quando alunos passam por outros que estão a chorar
e continuam o seu caminho, sem qualquer manifestação de cuidado e empatia pelo
sofrimento do seu semelhante.
Por outro lado, a não aceitação da diferença, seja em
relação à raça, orientação sexual, religião, entre outras, traduz-se em
atitudes de humilhação, discriminação e exclusão nas escolas, locais que
deveriam ser de inclusão e esperança, pautados pela ética do cuidar e educar.
No cenário atual de guerra, urge mais do que nunca,
transferir os comportamentos de solidariedade, compaixão e de ajuda, que se têm
multiplicado por toda a parte, para os contextos da escola, potenciando-os nos
alunos de forma a caminhar-se no sentido da erradicação do bullying.
Muitas das escolas preparam-se para receber e integrar
estudantes ucranianos, em situação de grande vulnerabilidade emocional, pelo
que o acolhimento nas nossas escolas, nomeadamente por parte dos alunos que
serão os seus pares, é fundamental. Importa trabalhar com os nossos alunos a
aceitação das diferenças, a capacidade de descentração e empatia (capacidade de
se colocar no lugar do outro), a solidariedade, a compaixão e o cuidado ao
outro.
A guerra só poderá ser combatida com a Educação para a Não-Violência,
visando aquele que é o bem maior para o maior número de pessoas e privilegiando
o aspeto grupal ao individual.
Só transformando o sistema atual de competição num sistema
de aliança, colaboração e cooperação é que poderão haver ganhos para ambas as
partes e ainda produzir-se um terceiro ganho, a modificação do contexto global,
em prol de uma sociedade mais justa, solidária e integradora.
domingo, 13 de fevereiro de 2022
A armadura da vulnerabilidade
“Em pequenos, arranjámos formas de nos protegermos da vulnerabilidade, de nos sentirmos feridos, diminuídos ou desiludidos. Vestimos a armadura; usámos os nossos pensamentos, emoções e comportamentos como armas; e aprendemos a tornarmo-nos esquivos, até mesmo a desaparecer. Agora, enquanto adultos, percebemos que, para viver com coragem (...) – para sermos a pessoa que ansiamos ser, temos de voltar a ser vulneráveis. Temos de despir a armadura, largar as armas, mostrar-nos e deixar que nos vejam”. – Brené Brown
Há uma ligação muito próxima
entre vulnerabilidade e vergonha. Geralmente, há uma associação da
vulnerabilidade ao medo, a ter dúvidas, a estar em risco, exposto. Mas também se
associa a vulnerabilidade a fraqueza, a angústia e sofrimento... ou seja, a
coisas que não queremos sentir porque de alguma maneira não são vistas como
positivas, são desagradáveis ou associadas a algo menos bom, menos forte. Ao
analisar as respostas às entrevistas que foram realizadas nos estudos de Brené
Brown, confirmou-se que a vulnerabilidade é o centro da vergonha e do medo.
Mas
porque sentimos tanta vergonha da nossa vulnerabilidade?
Estamos constantemente a viver
situações que implicam um maior ou menor grau de vulnerabilidade, e muitas vezes
colocamo-nos em outras que nos deixam ainda mais vulneráveis. A vulnerabilidade
é, assim, como que uma condição inerente à nossa condição humana, e, mesmo
assim, achamos que podemos fugir dela?
O problema é a associação que
se faz da vulnerabilidade com a fraqueza. Termos medo torna-nos fracos? Chorar
torna-nos fracos? Estarmos tristes torna-nos fracos? Então, termos emoções
torna-nos fracos? Errar torna-nos fracos? Mas que sociedade é esta que apenas
valoriza as vitórias e enfraquece quem está a aprender? Que sociedade é esta
que desvaloriza as emoções e a empatia?
Uma vez mais, debruço-me aqui nesta reflexão da importância do autoconhecimento, de termos tempo para nos compreender e acima de tudo nos aceitarmos pela pessoa que somos, com as nossas vulnerabilidades. O ser humano é um ser com forças e fraquezas, mas se conseguirmos olhar para as nossas vulnerabilidades sem vergonha de as assumirmos, cada um com as suas imperfeições (porque não existe perfeição), deixaremos de ter vergonha perante os outros. Aliás, porque o outro também tem as suas, e nisso somos todos iguais com as nossas imperfeições.
A aceitação das nossas vulnerabilidades torna-nos mais fortes e mais felizes com a pessoa que somos. O exemplo muito claro é que identificando nós uma imperfeição e tendo vergonha dela, qualquer comentário que nos possa fazer sobre isso nos vai magoar... Mas se eu própria assumir e partilhar essa imperfeição, se o outro fizer algum comentário, isso já não me atinge porque não a estou a esconder. Para além disso a partilha de vulnerabilidade (de forma natural a pessoas que sentimos que podemos confiar), cria empatia e mais facilmente a outra parte também partilha. E estamos a mostrar quem somos e a darmo-nos ao outro de forma genuína e sincera (essencial em qualquer relação saudável).
Para chegarmos à nossa empatia
perante as nossas vulnerabilidades, temos que compreender aquilo que está por
detrás da vergonha. Segundo a Brené Brown há 4 itens que necessitam de ser
respondidos:
- Reconhecer a vergonha e
compreender o que a desencadeia,
- Praticar uma consciência
crítica (as expetativas são realistas?),
- Estabelecer contacto
(assumir e partilhar) e
- Falar da vergonha.
A resiliência à vergonha é uma
estratégia para protegermos a relação – connosco próprios e com as pessoas de
quem gostamos.
“Perfeito” e “à prova de bala” são conceitos sedutores, mas não existem
na experiência humana. Devemos entrar na arena, seja ela quel for – um novo
relacionamento, uma reunião importante, o nosso processo criativo ou uma
conversa difícil – com coragem e disponibilidade para nos empenharmos”.
domingo, 23 de janeiro de 2022
O Impacto da Pandemia na Saúde Mental dos Jovens
O impacto negativo da pandemia entre os
jovens portugueses foi precisamente a conclusão a que chegaram os autores de um
estudo realizado por uma equipa da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
(FPCE) da Universidade de Coimbra (UC). Os resultados preliminares mostram que
14% dos adolescentes, com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos de
idade, apresentam sintomatologia depressiva elevada (acima do percentil 90).
As alterações na rotina diária associadas
à pandemia, bem como as restrições nas interações sociais e o medo associado à
infeção e à possibilidade de infetar pessoas próximas, consubstanciaram fatores
de stress muito significativos que tiveram impacto acentuado na saúde mental
dos jovens.
Se em alguns casos, houve alguns benefícios da
diminuição à exposição de fatores de stress social, para a maioria dos jovens, o isolamento a que se viram (ou se veem) forçados levou ao
adiar e mesmo à perda de muitas experiências - as festas, os encontros, as
viagens, os concertos, os namoros - comprometendo igualmente o desenvolvimento
de competências sociais como a comunicação, negociação, empatia, resolução de
conflitos e tomada de decisões. É este
património inestimável de memórias e da descoberta de si no encontro com o
outro, que está em causa em tempos de pandemia, ficando comprometidas as
experiências de exploração, autonomia, partilha, reconhecimento, descoberta,
amizade, cumplicidade, validação, pertença, intimidade e amor romântico, com
implicações na construção da identidade e na valorização pessoal.
No que respeita ao processo ensino-aprendizagem, muitos alunos
ficaram prejudicados no ensino à distância no que respeita à aquisição e
consolidação de aprendizagens. As lacunas que daqui advém, poderão comprometer
a transição para os níveis seguintes, o que se traduz em preocupação e
incerteza quanto ao seu sucesso escolar e projeto vocacional.
Pais e professores podem e devem estar atentos a sinais de alerta
de mal-estar, nomeadamente alterações no sono e na alimentação, diminuição da
motivação e rendimento escolar, uso abusivo de jogos online e de redes sociais,
isolamento social e sintomas de ansiedade, depressão e irritabilidade.
A melhor forma dos pais ajudarem os filhos, passa por revelarem uma
verdadeira disponibilidade emocional para escutarem empaticamente e acolherem as
suas dores, transmitindo tranquilidade e segurança. Importa também apoiar na regulação das emoções
e na flexibilidade mental, o que facilita a adaptação e a aprendizagem perante
condições adversas.
Nos casos em que existe um maior risco, os pais têm um papel importante para incentivar o jovem a aderir a um acompanhamento especializado. A deteção precoce de sinais de alerta, poderá contribuir para uma intervenção atempada e para a prevenção do desenvolvimento de transtornos mentais mais graves a médio e longo prazo.
Se tem dúvidas quanto à gravidade da situação e procura um acompanhamento psicológico especializado, poderá contactar a ClaraMente e marcar uma consulta para avaliação da sintomatologia e estabelecimento de um plano terapêutico. Na ClaraMente, podemos apoiar o jovem, proporcionando um espaço de escuta e compreensão que visa promover o auto-conhecimento, e o desenvolvimento de recursos internos mais eficazes para conseguir ultrapassar as suas dificuldades e seguir em frente, na construção do seu caminho, com mais confiança, bem-estar e satisfação.
domingo, 19 de dezembro de 2021
Natal com Aceitação (pelo que não controlamos) e Gratidão (pelo que chega até nós) no sapatinho!
Nesta altura
festiva e final do ano, seja por motivos religiosos ou por tradição cultural, é uma época em que geralmente se oferece e se recebe: presentes, companhia,
memórias, emoções e ao mesmo tempo é inevitável não se pensar ou não se falar
em finais e retrospetivas, mas também em recomeços, objetivos e metas.
Tendencialmente é
mais fácil olharmos para aquilo que não queremos ver repetido no novo ano que
se avizinha, desejar coisas novas, diferentes e melhores. Esquecemo-nos muitas
vezes que a vida é naturalmente imprevisível e pouco justa. Contudo, conseguir
aceitar o que não controlamos permite-nos ter mais energia para nos focarmos
naquilo que depende de nós. Ficarmos agarrados naquilo que queríamos que fosse
diferente, não nos permite viver em plenitude o presente.
Quando nos envolvemos com os pensamentos sobre o que queríamos que fosse diferente, sentimo-nos frustrados e temos a sensação que não temos controlo na nossa vida. Mas se efetivamente não podemos mudar as coisas que não nos agradam, viver envolvidos nesses pensamentos e sensações desagradáveis, faz-nos viver centrados na parte menos positiva da nossa vida... Mas então e as coisas boas? Faz sentido serem desvalorizadas? Ao nos focarmos no que temos a possibilidade de decidir, passamos a tomar mais consciência do que temos, do que está no nosso controlo e isso é empoderamento.
Por vezes também
nos esquecemos de ficar gratos pelo que temos, ambicionando quase
exclusivamente mais e melhor. Experienciar gratidão pelo que temos, na
simplicidade de um pôr-do-sol, ou no sorriso de outra pessoa, não faz de nós
pessoas ingénuas e/ou pouco ambiciosas... Estarmos gratos não compromete o
nosso esforço e empenho no nosso futuro, permite-nos contudo aceitar que temos
mais motivos para nos sentirmos satisfeitos e orgulhosos acerca de quem somos e
do que alcançámos.
A nossa vida
está cheia de relacionamentos, momentos e situações que nem sempre são
agradáveis. Há pessoas que nos magoam, relacionamentos que terminam, situações
que nos criam mal-estar, tristeza e ansiedade. Às vezes temos que nos afastar
das pessoas tóxicas para termos uma boa saúde mental. E se em vez de ficarmos
irritados, agradecermos pelo tempo que essas pessoas nos acompanharam e pelo
que elas nos ensinaram? Mesmo as pessoas que nos magoaram muito permitiram-nos
desenvolver recursos internos para lidar com a dor e com o sofrimento.
Gostaríamos que as coisas tivessem sido diferentes? É possível. Mas na verdade
crescemos, evoluímos e desenvolvemo-nos como pessoas ao ter passado por essa
situação. Não podemos voltar atrás para não ter vivido essa mágoa, então que
tal tentarmos retirar a aprendizagem dessa situação e sentirmo-nos gratos por
essa aprendizagem? Quanto mais capazes formos de nos sentirmos gratos, melhor
fechamos as feridas e perdoamos.
Não podemos
agradecer apenas pelas coisas boas e esperar que as más desapareçam. Quer as
coisas boas, como as más oferecem motivos, conhecimentos e razões para
continuarmos a demonstrar gratidão, por tudo. Naturalmente, vai-nos chegar à
cabeça num primeiro momento a dúvida: - Como é que vamos agradecer por aquilo
que nos fez mal? - É importante não esquecer que isso faz parte de viver e de crescer.
Viver num estado
de gratidão é estar em harmonia com o que somos, saber agradecer é uma arte,
que mesmo achando que não sabemos, podemos ir desenvolvendo. O apreciar das
coisas simples, o apreciar dos pequenos momentos de alegria e agradecer por tudo
o que vivemos e que temos, faz-nos sentir felizes. Ser grato é uma capacidade
que, uma vez adquirida, transforma o nosso olhar sobre o mundo, sobre a vida,
sobre as pessoas e sobre cada acontecimento. A capacidade de manter o olhar
voltado para o lado bom das coisas e sentirmo-nos gratos por termos isso,
vai-nos levar lentamente a uma mudança. As sensações que a gratidão nos dá,
permitem-nos desenvolver um antídoto natural contra o pessimismo, o
rancor e a mágoa.
Hoje venho
propor que possamos olhar com gratidão para o ano que agora encerra: as
aprendizagens que fizemos, as pequenas e grandes coisas boas que nos
aconteceram, as menos boas que conseguimos evitar ou com as quais soubemos
lidar. É comum olharmos para aquilo que esperamos ter ou ver realizado no próximo
ano. Mas hoje, ainda em 2021, desafio que nos foquemos no que este ano nos
trouxe para a nossa aprendizagem e crescimento... E a ficarmos gratos por isso.
quarta-feira, 17 de novembro de 2021
Psicoterapia na Infância e na Adolescência
A infância e a adolescência constituem
etapas da vida fundamentais para a estruturação da personalidade e do
funcionamento psíquico do futuro adulto. O aparecimento de perturbações
emocionais e comportamentais requer por parte dos pais e educadores uma atenção
especial, uma vez que a deteção e a intervenção atempadas, poderão evitar sequelas
futuras.
Nas crianças poderão surgir dificuldades no contexto escolar, nomeadamente dificuldades de aprendizagem e/ou no relacionamento interpessoal, bem como comportamentos de oposição e de desafio, birras, medos e ansiedades, hiperatividade e défice de atenção, tristeza, apatia e isolamento, perturbações de sono e na alimentação, entre outros. Importa a atenção por parte dos pais e prestadores de cuidados a este tipo de sinais que devem ser avaliados por um especialista, uma vez que podem estar a comprometer um desenvolvimento saudável e harmonioso.
Na ClaraMente, os pais e familiares que levam a criança à consulta, encontrarão um espaço psicoterapêutico de escuta, compreensão e partilha, no qual a intervenção se fundamenta numa estreita aliança terapêutica colaborativa. Nas sessões com a criança, através de uma abordagem especializada com recurso ao desenho, a histórias e ao brincar, ela é ajudada a identificar as suas emoções e necessidades e a comunicá-las de forma mais ajustada, visando-se o reequilíbrio do seu funcionamento e a adaptação ao seu contexto familiar e escolar.
Com os adolescentes trata-se de ajudá-los a lidar com os problemas emocionais que frequentemente surgem nesta fase de transição da infância para a vida adulta, marcada por importantes mudanças biológicas, psicológicas e sociais. As dificuldades em responder adequadamente aos conflitos internos, bem como às exigências externas (pais, escola, família), podem levar o jovem a um estado de inquietação constante, angústia e preocupação. As necessidades de afirmação pessoal, reconhecimento e integração social estão na ordem do dia e muitos pais sentem dificuldade em lidar com os comportamentos e atitudes dos seus filhos, sendo necessário, em determinados momentos, um apoio especializado.
Na ClaraMente podemos apoiar o jovem no desenvolvimento de estratégias mais adequadas na gestão emocional e resolução de problemas, por forma a conseguir ultrapassar as suas dificuldades e seguir em frente, na construção do seu caminho, com maior maturidade, confiança e bem-estar.
Claramente, ao encontro do seu bem-estar emocional
segunda-feira, 15 de novembro de 2021
A Urgência de se estar Sempre a fazer alguma coisa leva-nos Aonde?
Numa sociedade onde o fazer, fazer, fazer, impera; onde há uma pressão constante por desempenhos excelentes e uma rentabilidade máxima e onde o fazer nada, passou a ser visto negativamente, numa urgência constante em responder às expectativas pessoais e sociais, estão criadas as condições ótimas para o desenvolvimento de quadros de stresse, mal-estar, depressão e insatisfação... É nesta sociedade em que vivemos atualmente!
Parece que foi
criada uma ideia geral, que assumimos totalmente, que o valor enquanto pessoa
está diretamente ligado ao que fazemos. Mas e como é procurar sentirmo-nos com
valor enquanto pessoas, simplesmente pelo que somos? Não pelo que fazemos, nem
pelo que temos. Apenas ser! Como seria eu procurar o bem-estar geral enquanto
pessoa apenas? O que isso significa? Como é sentir isso? E se imaginarmos fazer
tudo o que desejamos fazer, como nos iríamos sentir? Totalmente realizados? E
depois disso? A ambição de atingir algo mais continua? Essa exigência de se
querer ter mais tem limites? Talvez possam parecer perguntas estranhas...
Talvez sejam. Mas tentar perceber o que estas questões fazem sentir pode ser
interessante, fica a sugestão!
A forma como as
pessoa se julgam, se comparam e se sentem julgadas pelos outros (mesmo que não
o sejam), leva a um sentimento de culpa, que vai incutindo na maioria das
pessoas a crença - ou estamos a produzir, a criar, a investir no nosso tempo de
forma clara, ou somos preguiçosos. Parece que o descanso deixou de ser bem
aceite, parece que cada vez mais as pessoas sentem que o não fazer nada é um
desperdício de tempo. Às vezes, até quando nos apercebemos que precisamos de
descanso e que um momento de não fazer nada seria tão bom, há aquela voz
crítica que nos diz que não podemos, não é suposto... Tanto que essa ideia nos
é passada, que vai sendo incorporada em nós! É passada por quem? Chefes,
empresas, media, sociedade de forma geral... Ninguém quer ser visto como
preguiçoso.
No entanto, uma pausa
durante o dia, o descanso ao final da tarde, um fim-de-semana sem olhar para o
correio eletrónico, momentos para apenas contemplar o que está à nossa volta
(que muitas vezes nem reparámos bem, mesmo ao estarem ali todos os dias), ouvir
uma música relaxante, tomar um banho quente, brincar com os gatos, dar um
passeio, fazer uma sesta, beber um chá... Cortar com o ritmo acelerado em que
muitos de nós vivemos, pode ser realmente vitalizador, reconstrutivo, gerador
de bem-estar e até mesmo produtivo!
Vários estudos
mostram que um tempo destinado e não organizado de inatividade, equilibrado com
a gestão das atividades, promove uma maior energia, foco, concentração e clareza
mental. Há a tendência de se valorizar demasiado o tempo em que estamos ativos,
mas é essencial reconhecermos a importância da inatividade também! Pela nossa
Saúde! As neurociências já demonstraram a importância dos “tempos de nada”,
indutores da sensação de bem-estar. É essencial acalmar a mente, parar de examinar
e afastar totalmente os pensamentos criadores de stresse, essas paragens
permitem uma reorganização mental, que é a base para novos insights e novas
soluções. Quantas vezes estamos a tentar encontrar uma solução há horas...e é
quando decidimos que fica para o dia seguinte e estamos relaxados que surge a
ideia, a solução? É isso! Ao conseguirmos estar mais relaxados, são anulados os
efeitos negativos das hormonas do stresse e produzidos neurotransmissores que
acentuam a sensação geral de bem-estar.
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É essencial incutirmos em nós a ideia da Necessidade de Autocuidado, do cuidarmos de nós, cada dia. Se nos sentimos exaustos, sem energia, deprimidos, com elevados níveis de ansiedade, não vamos produzir! Então não podemos colocar o objetivo prioritário de estar sempre a fazer algo e de sermos produtivos. Iremos ser, se conseguimos equilibrar as nossas necessidades. É urgente criar estes tempos de nada nos nossos dias, o que requer permissão por parte do próprio, para aceitarmos que esse tempo do nada não faz de nós pessoas preguiçosas, e assim organizarmos o nosso dia com esse tempo destinado.
Artigo publicado na Revista Psicologia na Actualidade - Psychology Now, nº 55 Out/Nov/Dez 2021