domingo, 19 de dezembro de 2021

Natal com Aceitação (pelo que não controlamos) e Gratidão (pelo que chega até nós) no sapatinho!

 

Nesta altura festiva e final do ano, seja por motivos religiosos ou por tradição cultural, é uma época em que geralmente se oferece e se recebe: presentes, companhia, memórias, emoções e ao mesmo tempo é inevitável não se pensar ou não se falar em finais e retrospetivas, mas também em recomeços, objetivos e metas.

Tendencialmente é mais fácil olharmos para aquilo que não queremos ver repetido no novo ano que se avizinha, desejar coisas novas, diferentes e melhores. Esquecemo-nos muitas vezes que a vida é naturalmente imprevisível e pouco justa. Contudo, conseguir aceitar o que não controlamos permite-nos ter mais energia para nos focarmos naquilo que depende de nós. Ficarmos agarrados naquilo que queríamos que fosse diferente, não nos permite viver em plenitude o presente.

Quando nos envolvemos com os pensamentos sobre o que queríamos que fosse diferente, sentimo-nos frustrados e temos a sensação que não temos controlo na nossa vida. Mas se efetivamente não podemos mudar as coisas que não nos agradam, viver envolvidos nesses pensamentos e sensações desagradáveis, faz-nos viver centrados na parte menos positiva da nossa vida... Mas então e as coisas boas? Faz sentido serem desvalorizadas? Ao nos focarmos no que temos a possibilidade de decidir, passamos a tomar mais consciência do que temos, do que está no nosso controlo e isso é empoderamento.

Por vezes também nos esquecemos de ficar gratos pelo que temos, ambicionando quase exclusivamente mais e melhor. Experienciar gratidão pelo que temos, na simplicidade de um pôr-do-sol, ou no sorriso de outra pessoa, não faz de nós pessoas ingénuas e/ou pouco ambiciosas... Estarmos gratos não compromete o nosso esforço e empenho no nosso futuro, permite-nos contudo aceitar que temos mais motivos para nos sentirmos satisfeitos e orgulhosos acerca de quem somos e do que alcançámos.

A nossa vida está cheia de relacionamentos, momentos e situações que nem sempre são agradáveis. Há pessoas que nos magoam, relacionamentos que terminam, situações que nos criam mal-estar, tristeza e ansiedade. Às vezes temos que nos afastar das pessoas tóxicas para termos uma boa saúde mental. E se em vez de ficarmos irritados, agradecermos pelo tempo que essas pessoas nos acompanharam e pelo que elas nos ensinaram? Mesmo as pessoas que nos magoaram muito permitiram-nos desenvolver recursos internos para lidar com a dor e com o sofrimento. Gostaríamos que as coisas tivessem sido diferentes? É possível. Mas na verdade crescemos, evoluímos e desenvolvemo-nos como pessoas ao ter passado por essa situação. Não podemos voltar atrás para não ter vivido essa mágoa, então que tal tentarmos retirar a aprendizagem dessa situação e sentirmo-nos gratos por essa aprendizagem? Quanto mais capazes formos de nos sentirmos gratos, melhor fechamos as feridas e perdoamos.

Não podemos agradecer apenas pelas coisas boas e esperar que as más desapareçam. Quer as coisas boas, como as más oferecem motivos, conhecimentos e razões para continuarmos a demonstrar gratidão, por tudo. Naturalmente, vai-nos chegar à cabeça num primeiro momento a dúvida: - Como é que vamos agradecer por aquilo que nos fez mal? - É importante não esquecer que isso faz parte de viver e de crescer.

Viver num estado de gratidão é estar em harmonia com o que somos, saber agradecer é uma arte, que mesmo achando que não sabemos, podemos ir desenvolvendo. O apreciar das coisas simples, o apreciar dos pequenos momentos de alegria e agradecer por tudo o que vivemos e que temos, faz-nos sentir felizes. Ser grato é uma capacidade que, uma vez adquirida, transforma o nosso olhar sobre o mundo, sobre a vida, sobre as pessoas e sobre cada acontecimento. A capacidade de manter o olhar voltado para o lado bom das coisas e sentirmo-nos gratos por termos isso, vai-nos levar lentamente a uma mudança. As sensações que a gratidão nos dá, permitem-nos desenvolver um antídoto natural contra o pessimismo, o rancor e a mágoa.

Hoje venho propor que possamos olhar com gratidão para o ano que agora encerra: as aprendizagens que fizemos, as pequenas e grandes coisas boas que nos aconteceram, as menos boas que conseguimos evitar ou com as quais soubemos lidar. É comum olharmos para aquilo que esperamos ter ou ver realizado no próximo ano. Mas hoje, ainda em 2021, desafio que nos foquemos no que este ano nos trouxe para a nossa aprendizagem e crescimento... E a ficarmos gratos por isso.

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