Nesta altura
festiva e final do ano, seja por motivos religiosos ou por tradição cultural, é uma época em que geralmente se oferece e se recebe: presentes, companhia,
memórias, emoções e ao mesmo tempo é inevitável não se pensar ou não se falar
em finais e retrospetivas, mas também em recomeços, objetivos e metas.
Tendencialmente é
mais fácil olharmos para aquilo que não queremos ver repetido no novo ano que
se avizinha, desejar coisas novas, diferentes e melhores. Esquecemo-nos muitas
vezes que a vida é naturalmente imprevisível e pouco justa. Contudo, conseguir
aceitar o que não controlamos permite-nos ter mais energia para nos focarmos
naquilo que depende de nós. Ficarmos agarrados naquilo que queríamos que fosse
diferente, não nos permite viver em plenitude o presente.
Quando nos envolvemos com os pensamentos sobre o que queríamos que fosse diferente, sentimo-nos frustrados e temos a sensação que não temos controlo na nossa vida. Mas se efetivamente não podemos mudar as coisas que não nos agradam, viver envolvidos nesses pensamentos e sensações desagradáveis, faz-nos viver centrados na parte menos positiva da nossa vida... Mas então e as coisas boas? Faz sentido serem desvalorizadas? Ao nos focarmos no que temos a possibilidade de decidir, passamos a tomar mais consciência do que temos, do que está no nosso controlo e isso é empoderamento.
Por vezes também
nos esquecemos de ficar gratos pelo que temos, ambicionando quase
exclusivamente mais e melhor. Experienciar gratidão pelo que temos, na
simplicidade de um pôr-do-sol, ou no sorriso de outra pessoa, não faz de nós
pessoas ingénuas e/ou pouco ambiciosas... Estarmos gratos não compromete o
nosso esforço e empenho no nosso futuro, permite-nos contudo aceitar que temos
mais motivos para nos sentirmos satisfeitos e orgulhosos acerca de quem somos e
do que alcançámos.
A nossa vida
está cheia de relacionamentos, momentos e situações que nem sempre são
agradáveis. Há pessoas que nos magoam, relacionamentos que terminam, situações
que nos criam mal-estar, tristeza e ansiedade. Às vezes temos que nos afastar
das pessoas tóxicas para termos uma boa saúde mental. E se em vez de ficarmos
irritados, agradecermos pelo tempo que essas pessoas nos acompanharam e pelo
que elas nos ensinaram? Mesmo as pessoas que nos magoaram muito permitiram-nos
desenvolver recursos internos para lidar com a dor e com o sofrimento.
Gostaríamos que as coisas tivessem sido diferentes? É possível. Mas na verdade
crescemos, evoluímos e desenvolvemo-nos como pessoas ao ter passado por essa
situação. Não podemos voltar atrás para não ter vivido essa mágoa, então que
tal tentarmos retirar a aprendizagem dessa situação e sentirmo-nos gratos por
essa aprendizagem? Quanto mais capazes formos de nos sentirmos gratos, melhor
fechamos as feridas e perdoamos.
Não podemos
agradecer apenas pelas coisas boas e esperar que as más desapareçam. Quer as
coisas boas, como as más oferecem motivos, conhecimentos e razões para
continuarmos a demonstrar gratidão, por tudo. Naturalmente, vai-nos chegar à
cabeça num primeiro momento a dúvida: - Como é que vamos agradecer por aquilo
que nos fez mal? - É importante não esquecer que isso faz parte de viver e de crescer.
Viver num estado
de gratidão é estar em harmonia com o que somos, saber agradecer é uma arte,
que mesmo achando que não sabemos, podemos ir desenvolvendo. O apreciar das
coisas simples, o apreciar dos pequenos momentos de alegria e agradecer por tudo
o que vivemos e que temos, faz-nos sentir felizes. Ser grato é uma capacidade
que, uma vez adquirida, transforma o nosso olhar sobre o mundo, sobre a vida,
sobre as pessoas e sobre cada acontecimento. A capacidade de manter o olhar
voltado para o lado bom das coisas e sentirmo-nos gratos por termos isso,
vai-nos levar lentamente a uma mudança. As sensações que a gratidão nos dá,
permitem-nos desenvolver um antídoto natural contra o pessimismo, o
rancor e a mágoa.
Hoje venho
propor que possamos olhar com gratidão para o ano que agora encerra: as
aprendizagens que fizemos, as pequenas e grandes coisas boas que nos
aconteceram, as menos boas que conseguimos evitar ou com as quais soubemos
lidar. É comum olharmos para aquilo que esperamos ter ou ver realizado no próximo
ano. Mas hoje, ainda em 2021, desafio que nos foquemos no que este ano nos
trouxe para a nossa aprendizagem e crescimento... E a ficarmos gratos por isso.
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