“Em pequenos, arranjámos formas de nos protegermos da vulnerabilidade, de nos sentirmos feridos, diminuídos ou desiludidos. Vestimos a armadura; usámos os nossos pensamentos, emoções e comportamentos como armas; e aprendemos a tornarmo-nos esquivos, até mesmo a desaparecer. Agora, enquanto adultos, percebemos que, para viver com coragem (...) – para sermos a pessoa que ansiamos ser, temos de voltar a ser vulneráveis. Temos de despir a armadura, largar as armas, mostrar-nos e deixar que nos vejam”. – Brené Brown
Há uma ligação muito próxima
entre vulnerabilidade e vergonha. Geralmente, há uma associação da
vulnerabilidade ao medo, a ter dúvidas, a estar em risco, exposto. Mas também se
associa a vulnerabilidade a fraqueza, a angústia e sofrimento... ou seja, a
coisas que não queremos sentir porque de alguma maneira não são vistas como
positivas, são desagradáveis ou associadas a algo menos bom, menos forte. Ao
analisar as respostas às entrevistas que foram realizadas nos estudos de Brené
Brown, confirmou-se que a vulnerabilidade é o centro da vergonha e do medo.
Mas
porque sentimos tanta vergonha da nossa vulnerabilidade?
Estamos constantemente a viver
situações que implicam um maior ou menor grau de vulnerabilidade, e muitas vezes
colocamo-nos em outras que nos deixam ainda mais vulneráveis. A vulnerabilidade
é, assim, como que uma condição inerente à nossa condição humana, e, mesmo
assim, achamos que podemos fugir dela?
O problema é a associação que
se faz da vulnerabilidade com a fraqueza. Termos medo torna-nos fracos? Chorar
torna-nos fracos? Estarmos tristes torna-nos fracos? Então, termos emoções
torna-nos fracos? Errar torna-nos fracos? Mas que sociedade é esta que apenas
valoriza as vitórias e enfraquece quem está a aprender? Que sociedade é esta
que desvaloriza as emoções e a empatia?
Uma vez mais, debruço-me aqui nesta reflexão da importância do autoconhecimento, de termos tempo para nos compreender e acima de tudo nos aceitarmos pela pessoa que somos, com as nossas vulnerabilidades. O ser humano é um ser com forças e fraquezas, mas se conseguirmos olhar para as nossas vulnerabilidades sem vergonha de as assumirmos, cada um com as suas imperfeições (porque não existe perfeição), deixaremos de ter vergonha perante os outros. Aliás, porque o outro também tem as suas, e nisso somos todos iguais com as nossas imperfeições.
A aceitação das nossas vulnerabilidades torna-nos mais fortes e mais felizes com a pessoa que somos. O exemplo muito claro é que identificando nós uma imperfeição e tendo vergonha dela, qualquer comentário que nos possa fazer sobre isso nos vai magoar... Mas se eu própria assumir e partilhar essa imperfeição, se o outro fizer algum comentário, isso já não me atinge porque não a estou a esconder. Para além disso a partilha de vulnerabilidade (de forma natural a pessoas que sentimos que podemos confiar), cria empatia e mais facilmente a outra parte também partilha. E estamos a mostrar quem somos e a darmo-nos ao outro de forma genuína e sincera (essencial em qualquer relação saudável).
Para chegarmos à nossa empatia
perante as nossas vulnerabilidades, temos que compreender aquilo que está por
detrás da vergonha. Segundo a Brené Brown há 4 itens que necessitam de ser
respondidos:
- Reconhecer a vergonha e
compreender o que a desencadeia,
- Praticar uma consciência
crítica (as expetativas são realistas?),
- Estabelecer contacto
(assumir e partilhar) e
- Falar da vergonha.
A resiliência à vergonha é uma
estratégia para protegermos a relação – connosco próprios e com as pessoas de
quem gostamos.
“Perfeito” e “à prova de bala” são conceitos sedutores, mas não existem
na experiência humana. Devemos entrar na arena, seja ela quel for – um novo
relacionamento, uma reunião importante, o nosso processo criativo ou uma
conversa difícil – com coragem e disponibilidade para nos empenharmos”.
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