domingo, 16 de maio de 2021

Homofobia Familiar: quando o preconceito começa dentro de casa

 


Foi a 17 de maio de 1990, faz hoje precisamente 31 anos, que a Organização Mundial de Saúde (OMS), retirou a homossexualidade da Classificação  Internacional de Doenças (CID).

Esta decisão foi um passo importante para a compreensão da homossexualidade como identidade sexual, e não como uma doença ou desvio da normalidade, passível de tratamento e cura.

No entanto, uma lei escrita, não muda preconceitos, comportamentos agressivos e tabus, pelo que importa continuar a combate-los, assinalando-se anualmente a 17 maio O Dia Internacional de Luta contra a Homofobia e a Transfobia que visa a consciencialização civil para a discriminação das pessoas homossexuais, transexuais e transgéneros.

Esta é uma descriminação que começa desde logo e muito frequentemente, dentro de casa, no seio das próprias famílias e cujo sofrimento que desencadeia acaba por levar à procura de ajuda psicológica especializada. Apesar de todo o processo na mudança de mentalidades que tem ocorrido ao longo dos tempos, o preconceito continua a existir dentro da própria família, onde supostamente deveria ser o lugar do amor, acolhimento, aceitação e compreensão.

 Para muito pais ainda é difícil abrir mão das suas expetativas e da opinião dos outros, encarando a homossexualidade dos filhos como uma falha pessoal, narcísica, que induz culpabilidade, vergonha e fracasso. Esta rejeição poderá traduzir-se por parte dos pais em manifestações de chantagem emocional, humilhação, frieza afetiva, distanciamento emocional e rutura relacional, dando lugar a um marcado sofrimento psicológico, nomeadamente ansiedade e depressão, e a danos significativos na auto-estima.

 Muitas pessoas sentem-se aprisionadas e sufocadas num conflito interno que oscila entre afirmar e viver em pleno a sua essência e não querer dececionar e perder o amor dos pais, reprimindo a sua própria identidade numa fachada. Muitos homossexuais afastam-se dos seus familiares ao conquistarem a sua independência financeira e também muitos outros permanecem ligados à sua família por uma ilusão de proteção de vínculos de amor "naturais", mas que exige uma anulação do próprio.

Se uma das maiores preocupações de pais e mães de homossexuais diz respeito à violência a que o filho poderá estar sujeito no quotidiano, em vez de se limitarem a tolerar os seus filhos ou a exercer sobre eles discriminação e violência (tudo aquilo que vai contra ao exercício da parentalidade) deveriam antes acolhê-los, amá-los e ajudá-los a lidar com o preconceito que eventualmente poderão encontrar.

A família é o primeiro sistema de apoio que promove a estruturação da identidade do individuo, de forma mais fragilizada ou fortalecida, e da qual dependerá a sua auto-aceitação, segurança pessoal e resiliência perante as adversidades.

Importa, pois, trazer para o debate público o problema da homofobia ainda sofrida no seio de tantas famílias e escondida pela esfera privada, uma vez que reforça os danos causados pela discriminação e violência nos espaços sociais.

A família, deveria, pois, constituir-se como um importante alvo de ação das políticas públicas que visam a defesa dos direitos humanos e civis, bem como o combate a todo tipo de violência e discriminação.

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