Tomando as significações que o cancro tem na nossa sociedade como profundamente relacionadas ao sofrimento, dor e morte, é importante refletir sobre o sofrimento psicológico que os cuidados aos pacientes de cancro pode criar nos profissionais de saúde. O contacto com uma doença como o cancro coloca os profissionais de saúde perante muitos fatores de stresse psicológico: comunicação de más notícias, adaptação à inexistência de cura médica, exposição repetida à morte de pessoas com os quais estabeleceram uma relação, envolvimento em conflito emocionais, absorção de cólera e de mágoa expressa pelos pacientes e pelos familiares e desafios ao sistema de crenças pessoais (Twycross, 1999).
Diversos estudos demonstram que os sentimentos despertados nos médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais que atuam em Oncologia, são semelhantes aos dos pacientes e familiares afetados pelo cancro, tais como a negação, a raiva, a culpa, o pensamento mágico e sintomas depressivos. Sentem também a impotência imposta pelos limites dos recursos pessoais e científicos. Quando e se o sofrimento não é levado com a devida consideração e os profissionais não são estimulados a explorar formas de elaborá-lo, pode levar a maiores níveis de ansiedade, depressão, criar um impacto negativo na rentabilidade do profissional como também poder afetar a qualidade do próprio cuidado ao paciente (Silva, 2010).
Algo é factual: é inevitável um certo grau de stresse no trabalho em Oncologia. A questão coloca-se sobretudo de qual o nível de stresse que pode ser evitado? Qual pode ser reduzido? Controlado ou Eliminado? O stresse constitui um aspeto intrínseco e inevitável da vida laboral, mas será a forma e a maneira de perceber e confrontar o stresse que vai marcar a diferença no funcionamento, adaptação e qualidade de vida dos profissionais de saúde.
Perante uma situação de stresse, a pessoa mobiliza estratégias para reestabelecer o equilíbrio do organismo e este equilíbrio depende das estratégias de confronto utilizadas para lidar com as situações stressantes. As Estratégias de Confronto referem-se a padrões de comportamento, cognições e perceções utilizadas para manter o equilíbrio do organismo mediante as exigências internas e/ou externas (Lazarus & Folkman, 1984). É importante referir que as estratégias de confronto utilizadas pelos cuidadores para lidar com situações de stresse, associadas ao ato de cuidar, cumprem um papel determinante nos níveis de saúde física e mental dos mesmos, e que certos processos de confronto promovem a saúde e previnem a doença, enquanto outros contribuem para a geração de processos de doença ou para o seu agravamento (Reis, 1998; Sequeira, 2013; Zarit & Edwards, 2008). Por esta razão existem programas de intervenção psicológica desenvolvidos para a gestão de stresse em contexto profissional. Os programas existentes demostram vantagens para os trabalhadores como para os responsáveis das organizações, e também para a sociedade em geral: redução dos custos dos seguros sanitários, diminuição do absentismo laboral, diminuição dos acidentes laborais, custos de tratamento mais reduzidos, aumento de produtividade, aumento do bem-estar, aumento da satisfação, aumento da qualidade de vida dos profissionais.Os objetivos gerais da atenção psicológica aos profissionais de
saúde da Unidade de Oncologia são essencialmente para permitir que os profissionais consigam gerir o stresse, prevenir o desgaste pessoal, aumentar e desenvolver os recursos internos mais funcionais e adaptativos para lidar com as situações de stresse e desenvolver hábitos e rotina de autocuidado que permita uma boa qualidade de vida tanto pessoal como laboral.
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