Todos nós já vivemos períodos conturbados, suscetíveis de abalar o nosso equilíbrio emocional e ninguém está imune a isso.
Cada um de nós, dentro das nossas
vulnerabilidades e capacidades, procura lidar da melhor maneira possível com as
suas emoções destablizadoras. A pesquisa e a procura de informações, bem como
de sugestões e opiniões de terceiros constitui-se como uma estratégia de coping
mas tão ou mais importante que isso, é processar e integrar internamente esses
dados de modo a que nos façam sentido dentro do nosso temperamento e
funcionamento. Somos todos diferentes e não há receitas mágicas que resultem de
igual maneira para todos.
Este processo de tentativa de ajuste
e de procura do reequilíbrio pode constituir-se como uma verdadeira luta
interna e seguir as recomendações de promoção de saúde mental como a realização
de exercício físico, relaxamento, cumprimento de horários e rotinas pode ser
particularmente difícil sobretudo quando dominam os sentimentos de incapacidade, angústia, tristeza e falta de
energia.
Esta luta interna pode, em muitos
casos, ser vivida de forma silenciosa nomeadamente, por vergonha e culpa em se
expor as fragilidades emocionais, desiludir, fracassar, preocupar e
sobrecarregar emocionalmente familiares e amigos.
Esta é uma realidade que pode ser
transversal a todos os seres humanos, nomeadamente aos profissionais de saúde mental, que não estão
imunes a ela e que têm para além disso o sentido de dever de ajudarem os
outros. Importa não esquecer que somos todos humanos e citando o papa Francisco
“Somos todos frágeis, todos iguais e todos preciosos.” É importante estarmos
atentos aos que estão à nossa volta e de não nos distanciarmos emocionalmente
para que ninguém fique efetivamente sozinho, nomeadamente na sua angústia e desespero.
A disponibilidade para oferecer o
seu tempo e ouvir sem críticas e julgamentos a experiência do outro, pode ser
desde logo de grande utilidade. A empatia e a validação da experiência sem aumentar ainda mais a
ansiedade e o medo, podem proporcionar um sentimento de compreensão que pode
ser tranquilizador. Fazer perguntas que deixem o outro à vontade para se abrir
e pensar a sua experiência de forma diferente, num ambiente seguro e solidário
poderá fazer a diferença, bem como sugerir atividades que proporcionem um
alívio dos sintomas.
A procura de acompanhamento especializado poderá
igualmente ser um recurso importante na promoção da estabilidade emocional e na
adaptação às circunstâncias adversas.
Artigo publicado na Revista Psicologia na Actualidade, Psychology Now, nº 51 Out-Nov-Dez 2020.
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