Todos nós temos valores e crenças sobre determinados temas da sociedade e das formas de viver, pensar e agir. Naturalmente existem divergências e todos nós sabemos da importância de sermos flexíveis para aceitar ao longo da vida, acontecimentos, atitudes e decisões com que não concordamos por parte dos outros, quando vivemos em sociedade. Em casal ou em família é importante irem havendo cedências de todas as partes, porque aí existe uma igualdade no valor da opinião e um querer manter esse sistema em harmonia. Mas quando se trata de chefias, quer a nível profissional ou qualquer outro tipo de relação de hierarquia, como se lida com a sensação de injustiça numa decisão? O que se faz quando nos obrigam a fazer algo com que não concordamos e que pode até mesmo ir contra os nossos valores? Como gerimos essa indignação que vai crescendo por dentro? O que se faz quando sentimos esse calor, dessa raiva, dessa zanga a crescer por dentro como que se nos corroesse?
A raiva sentida
é importante ser gerida, não nos faz bem vivermos com essa raiva durante muito
tempo e essa sensação de impotência também é fundamental que seja ultrapassada.
Essas emoções quando sentidas de forma intensa e durante muito tempo podem
causar uma série de problemas físicos (dores de cabeça, tensões musculares,
problemas gastrointestinais e cardiovasculares, etc.).
Então, o
permitir sentir o que estamos a sentir, exteriorizar de forma positiva
(técnicas de relaxamento aqui nesta fase também ajudam a apaziguar), ao mesmo
tempo que procuramos dar significado a tudo o que nos está a acontecer, ajuda a
encontrarmos uma posição, perante a situação, muito mais saudável. Naturalmente
este processo não é fácil e pode demorar algum tempo, mas essa reconstrução
acaba por ser essencial ao reequilíbrio do nosso bem-estar.
Aqui, a reflexão
sobre a origem desta raiva e indignação e qual a mudança que queríamos que
acontecesse ajuda-nos a situar. E à medida que vamos conseguindo estar menos
ativados fisicamente e emocionalmente, vamos conseguindo distanciarmo-nos da
situação e vamos conseguindo ver e pensar com maior clareza. Ter uma conversa
honesta sobre o que nos incomoda, se for possível com a outra parte e
conseguirmos através do diálogo dar a nossa perspetiva seria positivo, caso
seja possível. Mas e quando não... Temos que o resolver connosco próprios. A
injustiça é algo com que nos vamos deparando ao longo das nossas vidas. Algumas
coisas chocam mais, outras menos. Mas e pensar sobre: - O que isso significa
para mim? – Posso fazer algo? - Se não, como avanço a partir daqui? Aceitar que
não podemos mudar coisas e que temos limites é essencial, para podermos
prosseguir. É que efetivamente, não vivemos num Mundo Justo. Conseguimos por
exemplo fazer algo que nos é pedido no nosso trabalho, que vai contra a nossa
forma de ver? Como seria possível fazer isso sem nos sentirmos tão indignados?
Como seria encontrar uma outra forma de ver isso para ser mais aceitável? Como
esta situação me poderia não afetar tanto? O que poderia pensar para isto ser
vivido de forma mais leve? Faz sentido avançar? Quais seriam as consequências
reais de dizer que não? Estou capaz de aceitar essas consequências? Estes são
exemplos de questões que à medida que vão sendo respondidas, nos permitem ver
um caminho mais claro e uma direção mais definida.
Vários estudos
têm demonstrado que a indignação pode ser utilizada na criação e organização de
grupos, inspira pessoas a participar em ações coletivas na sociedade como assinar
petições ou participar em voluntariado. Estas são formas que algumas pessoas
vão conseguindo encontrar para se manterem coerentes com os seus valores, que
permite canalizar a energia para um determinado alvo e um objetivo concreto e específico,
facilitando o sentido que precisamos de encontrar nesses momentos de
indignação.
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