Quase de certeza
que já nos aconteceu em algum momento da vida pensarmos, ou já ouvimos alguém
próximo a dizer: “-Não entendo... tenho tudo o que preciso para ser feliz, mas
não me sinto feliz”.
O que dizemos
quando ouvimos isso? O que fazer quando ouvimos isso? Felizmente muitas pessoas
procuram apoio psicológico nestas situações, porque todos temos o direito de
nos sentirmos bem, com a nossa vida.
Essa sensação de
insatisfação pode derivar de inúmeras questões, nomeadamente o nosso nível de
exigência, aborrecimento com a rotina ou ter um sonho mas não o fazer por
receio.
Relativamente ao
nosso nível de exigência, podemos colocar o seguinte exemplo de um pensamento
recorrente: “a minha vida apenas será perfeita se casar e tiver 2 filhos, se
tiver uma estabilidade profissional, se a minha família estiver bem e se sentir
que tenho muitos amigos à minha volta”. E caso falte uma pequena parte desta
ideia, a satisfação não será sentida, um pouco a ideia do 8 ou 80, subjacente à
crença de “ou estarei feliz com o que desejo, ou estarei infeliz porque ainda
não tenho tudo o que realmente preciso”. Por vezes o nosso grande desejo de
atingirmos a dita felicidade, faz-nos quase aguardar por ela como se depois, no
momento em que ela chegasse, tudo ficasse para sempre bem. Mas se por um lado,
a espera desse futuro poderá não nos permitir viver o presente da melhor forma,
por outro, é quase como se acreditássemos que essa felicidade ao chegar fosse
para ficar. E ficará?
Quanto ao
aborrecimento com a rotina, criar e manter uma rotina é importante, mas
quebrá-la de vez em quando também é essencial. A zona de conforto é um conjunto
de actividades e de comportamentos que fazem parte de uma rotina, um padrão que
minimiza o stress e os riscos possíveis. A explicação mais científica para essa
expressão é que a zona de conforto é qualquer tipo de comportamento que
consegue manter um nível baixo de ansiedade. Assim, a zona de conforto dá-nos
uma sensação de segurança. Todos nós, ao estarmos na zona de conforto
beneficiamos de um bem-estar regular, baixa ansiedade e redução do stress.
Estar na zona de conforto não é algo bom ou mau, é um estado natural onde a
maioria das pessoas vivem. Ou seja, a zona de conforto é importante, mas se nos
limitarmos a estar aí, pode-nos criar num determinado momento das nossas vidas
uma sensação de vazio e insatisfação, seja na vida profissional, como na vida
pessoal.
E quando temos um sonho, um
objectivo, um projecto, mas por várias razões (receio de falhar, medo das críticas
dos outros) não avançamos, podemos estar perante um dilema. Com certeza que ao
longo da nossa vida já nos deparámos com dilemas de várias naturezas, uns mais
complicados e que criam um maior mal-estar e outros menos intensos. Contudo, os
dilemas criam por norma algum desconforto por termos que decidir pelo menos por
duas opções contraditórias, mas que por diversos motivos, não nos é fácil
avançar nessa escolha. Por vezes podemos ficar num mal-estar por um período
longo. Cada pessoa necessitará do seu tempo para elaborar o dilema e colocar a
hipótese de contrariar o que pensava que queria, os seus objectivos iniciais,
os seus gostos antigos, e colocar verdadeiramente a hipótese de avançar para
algo novo e desconhecido. Naturalmente, o desconhecido pode tornar-se
assustador para algumas pessoas, no entanto se a decisão tomada for nesse
sentido, será com certeza uma oportunidade de se avançar e evoluir, com novas
aprendizagens. Por vezes perceber-se o que nos impede de nos sentirmos bem e
felizes até pode demorar algum tempo... mas acabará por ser essencial para dar
início a essa procura.
Por decisão
pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
Artigo publicado na edição Abr/Maio/Jun, Nº 45 da Revista Psicologia Na Actualidade
Sem comentários:
Enviar um comentário