domingo, 9 de fevereiro de 2020

Sobre a Humildade



A humildade pode ser entendida como uma característica individual e que implica a existência de algum grau de maturidade psicológica, sendo passível de ser desenvolvida e moldada por experiências e pela influência do meio externo.
O conceito da humildade tem sido, ao longo do tempo pouco compreendido e muitas vezes associado a esse tal significado de fraqueza, subserviência, baixa-auto-estima, pobreza ou a uma aparência descuidada e despojada.
No entanto, se formos à origem etimológica da palavra humildade, vamos descobrir que ela é derivada no latim, de “humus” que designa terra. A palavra homem, derivada do latim “homo”, curiosamente também tem a sua origem no termo “humus”.
Assim sendo, a humildade pode ser entendida como um  processo psicológico a partir do qual o indivíduo se relaciona consigo e com os outros de forma realista, mantendo “os pés assentes na terra” e reconhecendo não só as suas qualidades mas também as suas  limitações, na medida em que fazem parte da sua verdade e da sua natureza.
Este posicionamento perante o próprio e os outros é sem dúvida vantajoso do ponto de vista psicológico, na medida em que a consciência das nossas limitações nos torna mais disponíveis para investir no nosso próprio desenvolvimento pessoal  e para aceder a níveis mais sofisticados de conhecimento.
Para além desta recetividade para a aprendizagem, a capacidade de aceitação e de tolerância dos aspectos mais vulneráveis e dolorosos da  personalidade também vai permitir estabelecer relações interpessoais sustentadas sobretudo na compreensão em vez de ser no julgamento e na crítica, o que incrementa  a qualidade dos relacionamentos.
Por outro lado, o  indivíduo com humildade consegue aceitar que, em certos momentos da sua vida, necessita de ser cuidado e é capaz de solicitar e de receber esse cuidado por parte do outro sem se sentir humilhado e afectado na sua auto-estima, o que proporciona trocas relacionais de colaboração, solidariedade e afetos ,viabilizando igualmente o acesso à experiência da gratidão.
A pessoa humilde tende a revelar um auto-conhecimento mais desenvolvido e uma auto-imagem mais íntegra e coesa na qual estão integrados os aspectos mais fortes da personalidade mas também os mais vulneráveis. Para além de aceitar as diferenças com mais tranquilidade e sem julgamento, a pessoa humilde demonstra mais empatia, interesse e respeito pela perspetiva do outro, comunicando sem adotar uma postura auto-centrada e egocêntrica, o que a torna  mais competente do ponto de vista emocional, pessoal e social.
A pessoa humilde tem a consciência da finitude e de como tudo é efémero e transitório, pelo que as conquistas e os sucessos não passam de situações momentâneas que coexistem com as falhas e as fragilidades, não adotando por isso atitudes exibicionistas ou de auto-engrandecimento nem esperando qualquer forma de tratamento especial.  


É possível trabalharmos o desenvolvimento da humildade. Para tal é importante:

O auto-conhecimento: o conhecimento mais profundo das nossas limitações e a aceitação das mesmas, permite-nos ter consciência da nossa necessidade de crescimento pessoal e de estarmos disponíveis para novas aprendizagens e experiências.

A aceitação da falha e o admitir dos erros: As pessoas que exibem capacidade para tolerar e admitir os seus erros, podem mais facilmente aprender com eles e evoluir, transmitindo igualmente aos outros uma honestidade emocional e uma dimensão humana despojada de ideais de perfecionismo que é apreciada e respeitada.

A aceitação da necessidade do outro: a capacidade para pedir ajuda e receber esse cuidado por parte do outro sem se sentir diminuído na sua auto-estima, é uma expressão de humildade que proporciona trocas relacionais de colaboração, solidariedade e afetos, bem como a experiência da gratidão.

O interesse genuíno pelo outro: a consciência de que todas as pessoas, independentemente do seu grau de instrução, idade, profissão e estrato social, têm experiências de vida diferentes da nossa e algo a partilhar, permite-nos estar mais disponíveis para escutá-las verdadeiramente. Facilitar a expressão do outro e conseguir apreciar e elogiar as suas qualidades e talentos, é uma via importante para desenvolver a humildade.

A empatia: o desenvolvimento da capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e de procurarmos ir ao encontro das suas necessidades, numa relação de ajuda, por exemplo,  facilita a descentração e promove a procura por contribuir para o bem estar do outro, sendo essa uma experiência de crescimento pessoal,

A consciência da finitude: a consciência de como tudo é efémero e transitório, e que os sucessos coexistem com as fragilidades, dispensa a necessidade de atitudes exibicionistas ou de auto-engrandecimento.

Publicado no Artigo "A Humildade é uma vantagem evolutiva", na revista online DN Life, 02/12/2019

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