Com alguma facilidade e de uma
maneira geral, todos podemos entender o que significa ser exigente, na medida
em que, em maior ou menor grau, todos possuímos padrões de exigência e de
expectativa no que respeita ao comportamento e desempenho. Estes padrões poderão implicar algum nível de stress, mas desde que
não sejam em excesso nem comprometam a adaptação e a funcionalidade, são
de grande utilidade na orientação para a ação e para o crescimento pessoal.
No entanto, quando o nível de
exigência e de cobrança é demasiado grande, o confronto com as obrigações poderá
tornar-se angustiante e traduzir-se em cansaço persistente, perda de energia,
tristeza, ansiedade, irritabilidade e até no desejo de procastinar.
Neste caso, é frequente as tarefas
serem percecionadas como demasiado exigentes, dando lugar à instalação da
dúvida quanto à capacidade para cumpri-las, à desvalorização do trabalho já
realizado e à antecipação de resultados insuficientes. Esta urgência em responder às expectativas pessoais e sociais, poderá levar
a um desempenho extenuante, sobressaindo a dificuldade na gestão do tempo, bem
como em distinguir o essencial do acessório com prejuízo para a produtividade, qualidade
do trabalho e cumprimento de prazos.
Se por um lado, estas pessoas até reconhecem
que têm competências, por outro, a possibilidade de errar e de não atingir o
tal ideal de perfeição acaba por se sobrepor e gerar ansiedade e insatisfação. Se
o resultado não corresponder ao que consideram aceitável ou for inferior
mediante a comparação com os outros, é frequente emergirem acentuados
sentimentos de insuficiência, desvalor e inferioridade, prejudicando a auto-estima.
É neste ponto que se pode dizer que o grau de
exigência se tornou nosso inimigo.
Na realidade, por mais que possamos
exigir, a nossa vida poderá ser muito diferente daquela que idealizámos, uma
vez que também existem variáveis que fogem ao nosso controlo.
Importa sublinhar que, deixar de
exercer este tipo de exigência feroz, não significa adotar uma postura resignada
e conformista perante a vida, uma vez que é importante desejar, ter objetivos e
lutar por eles. Significa porém, aceitar e abdicar dessa necessidade de
controlo absoluto, assim como conseguir reaquacionar o nosso posicionamento
quando a vida não corre como gostaríamos. Exemplo desse reposicionamento é
pensarmos por exemplo: “Eu gostaria de ter resultados e ganhar uma bolsa para
ir estudar fora de Portugal, mas se não conseguir, também posso encontrar
realização em formações e experiências profissionais no meu país.” É neste
reaquacionar que saímos da posição da frustração e de insatisfação porque as
coisas não correm como seriam desejáveis, para uma posição de satisfação e de
gratidão pelo que somos, pelo que temos e pelas possibilidades e recursos
internos que estão à nossa disposição.
Esta aceitação que, como seres humanos,
somos falíveis e que a par das nossas forças também temos limitações, promove
uma maior tolerância ao erro e à falha que poderão ser percecionados como
oportunidades de aprendizagem e de evolução em vez de ataques à auto-estima. A
procura pelo auto-conhecimento, pelo que realmente se quer e deseja, estimula
uma maior conexão com as nossas realizações e com o significado e sentido que
lhe atribuímos. Deste modo, as comparações com os outros, o medo de sermos
avaliados negativamente ou a necessidade de provarmos algo a terceiros, passam
para segundo plano na medida em que o que realmente importa é a relação que
estabelecemos com as nossas realizações e com aquilo que nos acontece. Assim
sendo, o valor passa a estar situado no processo e no seu significado e não
tanto nos resultados propriamente ditos, diminuindo a tal cobrança.
Por último, o respeito e o amor pela
nossa pessoa, permite-nos também perceber quando é tempo de parar e de não
ceder às pressões internas e externas, concedendo-nos o descanso necessário e
merecido para a nossa saúde física e mental.
Artigo publicado na Revista Psicologia na Atualidade,
Psychology Now, nº 46 Jul-Ago-Set 2019.
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