terça-feira, 11 de junho de 2019

Como reagir às birras


O que são as birras?



As birras são um comportamento normativo nas crianças entre os 2 e os 4 anos de idade e constituem um comportamento de oposição. Nesta idade as crianças são naturalmente egocêntricas e narcisistas, não conseguindo lidar com as negações e os limites.
As birras são um comportamento que é possível observar em momentos de frustração para a criança. Esta frustração advém da imposição de limites por parte dos adultos, mas também das limitações próprias da idade como a incapacidade de escolher e de tomar decisões sem ajuda dos pais. As birras são uma resposta emocional intensa a algo que a criança perceciona como frustrante e podem englobar vários comportamentos como o choro, grito, atirar-se para o chão, ficar paralisado, ficar mudo, agressões (a si ou a outros), morder, unhar, urinar, parar de comer, entre outros (espernear, puxar o cabelo, etc.).
Podem ainda ser utilizadas como uma forma de chantagem aos pais, uma vez que a criança compreende nesta fase que as suas ações provocam respostas nos outros. Tendem a desaparecer com o crescimento e as crianças entre os 5 e os 6 anos prescindem delas pois já adquiriram outras habilidades.

Porque ocorrem?

Vários são os fatores que favorecem as birras. Normalmente as birras ocorrem devido ao desejo da criança em ser independente mas deparar-se com limitações, havendo um choque entre a busca de autonomia e interesse em tudo que a rodeia com a interferência dos adultos e os limites próprios da idade. Este choque gera raiva e frustração. A limitação na linguagem é outro dos fatores que pode promover a ocorrência de birras, uma vez que as crianças com 2 ou 3 anos não conseguem ainda expressar claramente os seus desejos ou o desgosto produzido por não conseguirem estes desejos, conduzindo ao sentimento de impotência.
Na idade em que ocorrem as birras, as crianças não conseguem ainda distinguir o que está bem do que está mal, sendo que os conceitos de bem e mal se definem social e culturalmente, mas também segundo a família. As normas sociais reguladoras da comunicação e convivência são ainda imprecisas para as crianças e não lhes servem de moderadoras para os seus impulsos descontrolados.
Outro fator para a ocorrência de birras são os comportamentos inconsistentes dos pais. Quando é negado algo à criança, ela chora, grita, esperneia, e consequentemente muitos pais acabam por ceder aos pedidos dos filhos. Esta primeira negação e posterior cedência demonstra incoerência aos filhos, que por sua vez mantêm as birras pois sabem que com esse comportamento obterão o que pretendem.
A fome, sono, cansaço, idas ao supermercado, a falta de atenção por parte dos pais, ausência de normas, normas muito estritas ou o excesso são ainda outros fatores favorecedores das birras.

Como reagir a essa situação?

A ocorrência das birras em lugares públicos são um dos grandes incómodos para os pais, levando-os a reagirem à birra. Esta reação nem sempre é a mais adequada e leva à intensificação e prolongamento da birra. Existem alguns aspetos a ter em conta de forma a evitar que as birras ocorram, nomeadamente:
*        Devem ser respeitadas as necessidades de sono e fome da criança;
*       Definir regras e limites claros, precisos e adequados para a idade desenvolvimento da criança:
*     Os limites e regras devem ser consistentes e consensuais entre os pais e não serem alterados segundo o cansaço ou o humor dos pais.
*        Manter o “não” firme e irredutível apesar do aborrecimento.
*        Manter os objetos proibidos fora da vista da criança;
*     Os brinquedos devem ser adequados à idade da criança, com vista a não causarem frustração;
*     Dar algumas oportunidades para a criança fazer escolhas, como escolher a roupa ou os sapatos, ou qual de dois alimentos pretende comer.
*     Devem fazer-se avisos prévios à criança, como por exemplo avisar que após o almoço terá que lavar as mãos e os dentes.

Quando a birra acontece há também alguns comportamentos que podemos ter, nomeadamente:
*        Não se exaltar;
*        Não tentar chamar a criança à razão;
*        Não castigar a criança;
*        Não ceder ao pedido da criança;
*        Atuar de imediato para que a criança não perca o controlo total;
*        Desviar a atenção da criança para outro objeto, local, etc;
*        Levar a criança para outro local;
*        Conter a criança em caso de que possa magoar-se;
*        Em alguns casos ignorar a birra ou mostrar-se surpreso.

O que acontece se cedermos?

Quando negamos algo à criança e se desencadeia a birra, proporcionamos um momento para que ela lide com a frustração e com o confronto com uma negação. Ao cedermos após a criança iniciar a birra, estamos a ensinar à criança que esta é uma forma que tem para conseguir o que quer, levando-a a reproduzir este comportamento sempre que quiser manipular os pais para obter algo que deseja. Quando se cede umas vezes e outras não, a criança fica confusa e fica sem entender qual é a melhor forma de agir uma vez que não tem diretrizes claras.


Referências bibliográficas:
Pernas, P. & Luna, C. (2005). Las rabietas en la infancia: qué son y cómo aconsejar a los padres. Revista de Pediatría e Atención Primaria, 7, 67-74.
Gouveia, R. (2009). As birras na criança. Revista Portuguesa de Clínica Geral, 25, 702-705.
Silva, A. (2013). Birras infantis, estilos educativos parentais e comportamentos de punição (Dissertação de mestrado não publicada). Universidade de Coimbra.
Duarte, A. (2011). As práticas educativas parentais e as birras das crianças (Dissertação de mestrado não publicada). Instituto Miguel Torga – Coimbra.



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