Quando a nossa
responsabilidade profissional nos exige as horas de trabalho e as extra para
conseguirmos dar resposta a tudo, quando a nossa responsabilidade familiar nos
exige cuidar dos filhos, dos pais e da casa... quando sentimos que tentamos dar
resposta, mas que constantemente nos apercebemos que não estamos a ser
suficientemente bons em nenhuma das partes, quando ouvimos queixas no trabalho
que temos prazos e que nos estamos a atrasar, quando ouvimos queixumes do
companheiro / companheira, ou dos filhos que não passamos tempo de qualidade, ou
que já não brincamos com eles... quando temos algum tempo e não nos apetece
fazer absolutamente nada!
--- pausa—urgente!
Esta situação poderia ser a de muitas pessoas, e infelizmente são estas situações que também vão convergir em perturbações de ansiedade ou perturbações de humor. A super-mulher ou o super-homem é algo inatingível. Um estereótipo que até pode ter sido criado para inspirar e dizer: “Sim, você é capaz de tudo!”. Mas e seremos capazes realmente de tudo? Mas e se formos capazes de tudo, não acabará por surgir sempre mais? Afinal onde está o limite?
Um novo estudo (https://www.apa.org/pubs/journals/releases/bul-bul0000138.pdf) de Thomas Curran e Andrew Hill, publicado no Psychological Bulletin, concluiu que o perfeccionismo está em ascensão. Os autores, ambos psicólogos, concluem que "as recentes gerações consideram os outros mais exigentes, são mais exigentes com os outros e são mais exigentes consigo mesmos". E quando não concretizamos as exigências que vemos e lemos serem dos outros, ao mesmo tempo que são as nossas, é o caminho fácil para nos sentirmos frustrados, falhados, tristes, ansiosos...
Como contrariar esta situação? Naturalmente o primeiro passo é termos consciência do caminho que estamos a seguir... e naturalmente não podemos esperar que algo mude, quando continuamos a seguir o mesmo caminho. Depois talvez seja importante apercebermo-nos que o nível de exigência é irrealista e que talvez seja necessário fazer algo diferente... nomeadamente dividirmos as tarefas em casa (com companheiro/companheira, filhos), pedir apoio a avós ou a tios, negociar prazos ou delegar tarefas no trabalho, colocar também como prioridade tempo para nós próprios.
Vários estudos mostram que tempo dedicado e não estruturado de inactividade equilibrado com a gestão das actividades, promovem uma maior energia, clareza mental e capacidade de concentração ao longo do dia. No entanto, o vivermos tão focados e pressionados pela produtividade, pode-nos parecer até estranho... Isso porque o não fazer nada é muitas vezes associado a preguiça ou apatia, e vem acompanhado por pensamentos negativos, julgamentos e até mesmo uma sensação de culpa.
Mas e se
continuarmos por esse caminho... e cada dia nos sentimos mais cansados e com
menos energia e vontade, como poderemos continuar a fazer bem as coisas, a dar
de nós a quem nos é importante, e acima de tudo... como nos vamos sentir bem?
Por decisão pessoal, a autora do texto
não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
Artigo publicado na edição Jan/Fev/Março, Nº 44 da Revista Psicologia Na Actualidade
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