Num mundo marcado cada vez mais pela diversidade, o desenvolvimento da tolerância torna-se um imperativo fundamental para uma vida equilibrada em sociedade.
Podemos entender a tolerância como a aceitação e o respeito pela diferença, bem como o entendimento de que todos os indivíduos são livres para se expressar e viver de acordo com suas crenças e convicções. Neste sentido, a tolerância implica também um compromisso ativo de luta pelos direitos fundamentais dos seres humanos.
Do ponto de vista da sociedade, o exercício da tolerância contribuí para a abolição de atitudes de descriminação de ordem cultural, racial, religiosa, política ou sexual, que muitas vezes estão na origem de situações de guerra, violência, isolamento e exclusão. Sociedades tolerantes promovem a inclusão porque entendem que a diversidade e o intercâmbio cultural são uma força que enriquece ao nível da criatividade e reforça a resiliência dos seus membros.
Do ponto de vista individual, o exercício da tolerância relaciona-se com a maturidade psicológica cuja principal característica é precisamente a boa tolerância à frustração e aos aspetos mais vulneráveis e dolorosos da personalidade. Este auto-conhecimento, que permite ao indivíduo possuir uma imagem íntegra e coesa de si próprio, incrementa definitivamente a qualidade dos seus relacionamentos interpessoais que serão sustentados sobretudo na compreensão em vez de ser no julgamento e na crítica.
Para além de aceitarem a diferença com tranquilidade e sem julgamento, as pessoas emocionalmente maduras e tolerantes demonstram competência no trato, nomeadamente respeito, delicadeza e preocupação em não ferir e suscetibilizar o outro. Para além de empáticas, são capazes de comunicar assertivamente sem adotar uma postura auto-centrada e egocêntrica, sendo por isso mais competentes do ponto de vista emocional, pessoal e social.
De uma maneira geral, as pessoas com fraca tolerância ao que é diferente apresentam uma marcada rigidez mental, isto é têm dificuldade em aceitar perspetivas diferentes da sua, já que estas poderão ser vividas como ameaçadoras à sua identidade e geradoras de ansiedade. Neste sentido, poderão apresentar uma maior dificuldade em lidar com situações de frustração e contrariedade, adotando comportamentos mais reativos e reivindicativos, pois acreditam que a sua visão é a única válida, desvalorizando e desprezando a do outro. A carência de empatia, acaba por comprometer as suas relações interpessoais e esta inflexibilidade psicológica dificulta o acesso ao pensamento criativo e a resolução eficaz de problemas perante situações imprevistas de stress. O apego obstinado a determinadas crenças, hábitos e rotinas acabam por se constituírem como defesas para garantir uma vivência subjetiva de segurança, ordem e tranquilidade sem a qual se desiquilibram. Contudo, a rigidez e o medo de errar colocam o indivíduo numa posição de estagnação, o que dificulta a conceção de um futuro mais interessante, surgindo então o pessimismo.
Para desenvolver a tolerância é importante:
O auto-conhecimento: um conhecimento mais profundo das forças e limitações do próprio a par da capacidade para tolerar os aspetos mais frágeis e dolorosos da personalidade irá promover o estabelecimento de relacionamentos interpessoais assentes sobretudo na tolerância e na aceitação do outro em vez de ser no julgamento e crítica.
A consciência da limitação do saber: a humildade para ter consciência que o nosso saber é limitado, promove uma disponibilidade maior para aprender, com todas as pessoas, independentemente do seu grau de instrução, idade, profissão ou extrato social/cultural, respeitando diferentes pontos de vista.
A aceitação da falha: A aceitação que o erro e a falha fazem parte da condição humana facilita ousar a arriscar novos desafios, porque as eventuais dores que possam surgir dos fracassos são suportáveis. As pessoas que exibem capacidade para tolerar os erros e aprender com eles, estão em constante evolução, o que lhes permite atingir graus cada vez mais sofisticados de auto-conhecimento e de domínio sobre si, construindo uma perspetiva otimista e de esperança em relação ao futuro.
A consciência da finitude: a consciência de como tudo é efémero e transitório, traz-nos a noção de que as conquistas e os sucessos não passam de situações momentâneas e as condições de superioridade (instrução, conhecimento, extrato social) não devem ser usadas com arrogância para rebaixar o outro ou para gerar uma atitude de autoengrandecimento.
O controlo das emoções: o reconhecimento de todas as suas emoções permite ao indivíduo não ser escravizado por elas, ou seja, não viver em reatividade às suas emoções mas gerindo-as com ponderação e bom senso. A pessoa pode sentir-se alegre, triste, aborrecida ou irritada mas em controle e em função dos acontecimentos da sua vida.
A empatia: a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e de imaginarmos a sua dor e entendermos a sua perspetiva, é a base fundamental da tolerância.
Artigo publicado na revista "Saber Viver" do mês de Dezembro 2018
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