Na
vida de um casal, nem sempre tudo é um mar de rosas e conservar o equilíbrio
emocional implica antes de tudo saber comunicar com o parceiro.
Quantos
casais vivem juntos há dezenas de anos sem comunicarem verdadeiramente? Isto é,
sem partilharem as suas preferências, vontades, desejos, bem como os seus
desagrados e necessidades? A dificuldade em dizer não, está muitas vezes na
origem dos problemas de relacionamento e poderá estar associada ao medo em
desagradar o parceiro e deixar de ser amado, magoá-lo, provocar conflitos,
sofrer represálias, rupturas e transgredir (na medida em que existe a convicção
que o próprio não tem direito a ter desejos pessoais).
Com
medo de desagradar o parceiro, estas pessoas acabam por anular as suas próprias
necessidades e preferências e por passar a viver ao serviço do desejo do outro,
o que no dia-a-dia, poderá traduzir-se por este ou aquele restaurante, filme,
comportamento ou carícia. Sem haver plena consciência da anulação que é feita
da própria identidade, estes pequenos gestos são desvalorizados e devidamente
racionalizados: “não vale a pena estar a aborrecê-lo com isso”; “isso também é
irrelevante”; “eu é que me sinto assim sem razão, o problema é meu”.
Na
realidade, cada emoção não partilhada aumenta o distanciamento entre o casal e
poderá levar à separação, se não for fisicamente, pelo menos afetivamente. Os
outros têm a necessidade de nos conhecer verdadeiramente para nos amarem e
respeitarem mas tal não é possível se a imagem transmitida não for a real.
Dizer não é posicionar-se em face dos outros como diferente, existir como
sujeito com desejos e necessidades próprias e não como objeto que funciona como
prolongamento do desejo do outro.
Inevitavelmente,
esta submissão constante ao outro, acaba por dar lugar a ressentimentos, que
embora possam ser reprimidos, acabam por minar a relação. Se por um lado, a
pessoa nunca se opõe nem comunica as suas necessidades, por outro também poderá
esperar, secretamente, que o parceiro, como que por magia ou telepaticamente,
descubra quais são e as satisfaça. A personificação deste papel de
mártir ao serviço dos outros, também poderá trazer benefícios secundários
relacionados com uma pressuposta auto-valorização e superioridade moral, que
leva à manutenção do mesmo.
A
verdade é que muitas destas pessoas, ao longo do seu desenvolvimento, nunca
sentiram legitimidade para desejar e aprenderam a calar os seus desejos e a
escondê-los, não só dos outros, mas também delas próprias. Como tal, têm
dificuldade em dizer não, porque também não sabem verdadeiramente o que querem,
o que precisam ou o que poderiam propor em alternativa. O ficar por conta própria
e tomar as rédeas da vida, poderá dar lugar a sentimentos de
desamparo e solidão porque até então sempre foi o desejo do outro, o farol condutor.
Para
redescobrir as próprias necessidades é importante escutar e respeitar as
emoções, porque são elas que informam das necessidades, nomeadamente daquelas
que foram frustradas, para que então depois possam ser comunicadas ao parceiro.
Desta forma, não só é possível zelar pela preservação da integridade pessoal como também promover uma
comunicação mais verdadeira e honesta com o parceiro, o que contribui para uma
maior proximidade afetiva e segurança na relação a dois.
Este artigo está publicado na Psychology
Now-Revista Psicologia na Actualidade, na edição n.º42 de Julho-Agosto-Setembro de 2018
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