Creio
que a todos nos custa largar determinadas pessoas, determinados momentos,
determinados lugares, determinadas memórias, determinadas ideias, determinados
objectos, num ou outro determinado momento da nossa vida. Umas vezes mais e
outras vezes menos, a algumas pessoas mais, a outras pessoas menos.
Naturalmente
o largar, será sentido de forma bastante diferente se somos (ou se sentimos que
somos) obrigados a fazê-lo, ou se sentimos que essa decisão é nossa.
Por
exemplo: um jovem que os pais mudaram de cidade e teve (não por opção dele) que
ir estudar para outra escola e deixar os antigos colegas e amigos; ou numa
relação onde a outra pessoa terminou e “vemo-nos” obrigados a largar essa
pessoa. Um outro exemplo é o sermos nós a terminar a relação porque não nos
sentimos bem, mas apesar disso, ser difícil largarmos as memórias dos momentos
bons que foram passados. A capacidade de largar, em determinados momentos pode
ser uma tarefa realmente árdua.
O
largar, vai-nos permitir estar disponíveis para abraçar algo novo, uma nova
etapa.
Podemos
pensar em relações, podemos falar de empregos, podemos falar de casas, podemos
falar de colegas de trabalho, podemos falar de cidade... O ser humano é um ser
de hábitos, contudo, quando surgem mudanças (pequenas ou grandes, mais intensas
ou menos), mesmo que sejam encaradas como positivas, automaticamente também
podem despertar em nós uma certa resistência. Essa resistência faz parte do
nosso corpo, da nossa mente. Basta pensarmos que quando uma mudança ocorre,
obriga-nos a aprender algo de novo, a adaptar-nos, existe uma exigência a que
temos que dar resposta, sendo por vezes assustador (então ainda mais quando não
queríamos aquela mudança!)
A
própria resistência à mudança está associada ao que já conhecíamos e ao que já
fazia parte de nós até à data, e até mesmo quando isso nos podia estar a causar
mal-estar e sofrimento (por exemplo uma relação tóxica). Tal como a própria
expressão diz “mais vale um mal conhecido do que um mal desconhecido”, e isso porque
apesar de sabermos que o que queremos largar nos faz mal, o desconhecido também
não nos dá segurança, e o receio de largar e avançar não é efectivamente uma
tarefa fácil.
Se
conseguirmos encarar essa resistência como uma parte da resposta natural do
nosso organismo, até mesmo como fazendo parte do próprio processo de aceitação
à mudança, já não nos sentiremos tão assustados. Se aceitarmos a própria
resistência, largaremos o que temos que largar mais facilmente, para nos
disponibilizarmos a abraçar o verdadeiro presente...
Artigo escrito para a Revista Psicologia da Actualidade - encontra-se na edição nº 36 - Maio Junho 2017
Por decisão pessoal, a autora do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.
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