Quando se pensa em qualidade de vida e
saúde, é inegável a influência da vida profissional no bem-estar geral.
Se grande parte do nosso tempo é
dedicado a trabalhar, importa refletir sobre o contributo do nosso trabalho para
a satisfação das nossas necessidades, aspirações e propósito pessoal. Para essa
reflexão, é essencial um exercício de autoconhecimento que permita a conexão
com os nossos valores, interesses e prioridades atuais e que responda a
questões tais como: “Quais são os meus conhecimentos, talentos e aptidões?”, “O
que gosto de fazer?”, “O que faço melhor?”, “Quais são as minhas prioridades
atuais?”, “Quais são as minhas metas de vida?” Exercer uma profissão alinhada com
o propósito pessoal, que vá além da recompensa monetária e numa área
pessoalmente relevante, é fundamental para uma vivência significativa e
satisfatória. Pelo contrário, exercer uma função pouco estimulante e nada
significativa ao longo da vida, desconectada das motivações pessoais e objetivos
de vida, poderá ter efeitos muito negativos na saúde mental.
Por outro lado, é igualmente importante compreender
se as condições do ambiente de trabalho respondem às necessidades de bem-estar geral
e de produtividade.
Ambientes de trabalho pautados pelo
excesso de horas de trabalho, comunicação agressiva, relações conflituosas,
desvalorização dos trabalhadores, sobrecarga de tarefas, prazos curtos, falta
de feedbacks e metas irrealistas, podem afetar gravemente a saúde mental,
levando ao aparecimento de problemas de saúde psicológica, como o stress
crónico, a depressão e a ansiedade.
É de salientar que Portugal ocupa o
primeiro lugar no risco de Burnout – definido pela OMS como o estado de
esgotamento físico e mental causado pelo exercício de uma atividade
profissional- na União Europeia.
Para este desgaste extremo, além da
pressão do exterior, podem também contribuir fatores pessoais, em relação aos
quais importa refletir, tais como o perfecionismo, o elevado nível de ambição e
de criticismo e a auto-exigência, imperando a pressão pessoal para desempenhos
excelentes e maximização de resultados. Quando assim é, parece não haver muito
espaço para desligar, desconectar e parar.
No entanto, há muito que as
neurociências evidenciaram que incorporar tempos de pausa no nosso quotidiano,
promove uma maior energia, clareza mental e capacidade de concentração ao longo
do dia. Ou seja, ao ativar no cérebro um estado mais passivo e relaxado, são
neutralizados os efeitos negativos das hormonas do stress e produzidos
neurotransmissores como endorfinas e dopaminas que acentuam a sensação
geral de bem-estar. Este estado permite assim romper com os padrões de
raciocínio anteriores e com as emoções negativas associadas, promovendo o
acesso a uma posição neurológica mais favorável a um raciocínio mais claro,
criativo e produtivo
É neste parar que a mente se reorganiza,
criando-se a base para novos insights e para aumentar a criatividade e a
capacidade para resolver problemas e tomar decisões, incrementando a qualidade
do trabalho e a auto-confiança.
Se queremos ser produtivos, criativos e
equilibrados em contexto profissional, é essencial colocarmos como prioridade
tempo para nós mesmos, bem como respeitar os nossos limites, pedir ajuda sempre
que necessário, delegar tarefas e ser flexível na resolução de problemas.
A conciliação da vida profissional com a
pessoal, é igualmente importante para a nossa saúde, equilíbrio e produtividade,
bem como a adoção de práticas de autocuidado.
A realização de exercício físico e de atividades
que proporcionem prazer, bem como seguir uma alimentação equilibrada e manter
uma boa rotina de sono são atitudes diárias que contribuem para a saúde de
forma geral, promovendo a libertação de hormonas associadas ao bem-estar.
Desenvolver relações saudáveis, pautadas pela confiança, honestidade e empatia,
bem como a partilha de emoções com alguém de confiança contribuem igualmente
para o bem-estar.
Estas e outras medidas de autocuidado constituem-se
como importantes fatores protetores do stress laboral, contribuindo para um
bem-estar geral, em que a pessoa está ciente das suas habilidades e é capaz de
enfrentar as dificuldades, trabalhar de forma produtiva e contribuir para a sua
comunidade.