A morte na nossa sociedade é um tema que as pessoas evitam falar. Apesar de ser a única certeza que se tem na vida, que esta é finita, o medo, o receio e a angústia que estão associados ao pensar-se nisso, faz com que a morte seja um tema tabu. Contudo o não se falar da morte como algo natural, quando as pessoas se vêm obrigadas a lidar com ela, seja porque lhes é diagnosticada uma doença grave, ou porque um ente próximo morre ou lhe é diagnosticado uma doença grave, e/ou terminal, torna muitas vezes essa vivência mais penosa, pesada e sofrida.
A morte é um processo natural, porém
doloroso, mas desmistificar o tema e alertar que, é preciso aceitar a morte
para ter qualidade de vida, acaba por ser importante para melhorar a qualidade
de vida, quando esta está a terminar.
Quando a pessoa doente sabe que tem
pouco tempo de vida, é importante permitir-se a fazer o luto de todas as suas
relações e acima de tudo, fazer o luto de si própria. No entanto o doente
terminal tende a passar pelas diversas fases de luto (negação, revolta,
negociação, depressão e aceitação). Alguns doentes sabem da sua situação, mas
fingem não saber ou não compreender, tal como os próprios familiares, isso exatamente
pela dificuldade de se olhar para a finitude de vida e de se falar sobre o tema.
Ao viver-se numa situação de doença grave,
ameaçadora de vida, com carácter progressivo, esperar que o desenrolar da
doença não corresponda ao que se conhece, ou ao previsto para aquela situação,
pode levar a decisões que aumentam o sofrimento ou que impeçam a resolução de
questões importantes para o doente e para a sua família, nomeadamente o
despedir-se das pessoas que lhe são importantes. O luto antecipado pela família
por vezes torna-se tão difícil que dificulta o próprio doente a fazer o luto de
si próprio e a encontrar tranquilidade, paz e aceitação. Muitas vezes a negação
da família prejudica o próprio doente a vivenciar o seu processo, prendendo-o à
tristeza, revolta e angústia que a família sente. O contributo dos psicólogos neste
acontecimento de vida é crucial, facilitando a regulação emocional e alívio do
sofrimento e na construção de significado.
São vários os estudos que demonstram
que, a seguir à dor descontrolada, a má comunicação é o que mais sofrimento
causa a estes doentes. Facilitar a comunicação e a partilha dos sentimentos é
algo fundamental, validar e dar significado à raiva, frustração, desespero,
desorientação, culpa, deceção vai permitir encontrar uma tranquilidade e paz.
O trabalho de luto com o doente e com
a família é um processo difícil, mas ao valorizar-se a dignidade da pessoa
ainda que doente, vulnerável e limitada, e facilitando o processo de aceitação
da morte como uma etapa natural da vida, vai permitir que o doente viva o resto
da sua vida, de forma mais leve e com melhor qualidade de vida.
Este cuidado humano, faz parte dos cuidados paliativos, que constituem hoje uma resposta integrada e indispensável aos problemas do final da vida. Em nome da ética, da dignidade e do bem-estar de cada Pessoa é preciso torná-los cada vez mais presentes na nossa sociedade.
Artigo publicado na Revista Psicologia na Actualidade - Psychology Now, nº 54 Julho/Agosto/Setembro 2021
Sem comentários:
Enviar um comentário