“A arte da música é a que mais se aproxima das lágrimas e das recordações.” Oscar Wilde
Esta frase de Oscar Wilde é bem representativa do poder da música na evocação de emoções e memórias, impactando e modulando o nosso estado emocional.
Ao nos permitirmos entregar a nossa atenção plena à melodia, harmonia, ritmo e letra da canção, estamos a potenciar a nossa capacidade para contactar, identificar, nomear e comunicar as nossas emoções. Estas são competências essenciais para o desenvolvimento da autoconsciência emocional, sem a qual não é possível a gestão adequada das nossas emoções e a adoção de respostas mais adaptativas.
Para compreender o impacto
emocional da música, foi realizada uma investigação liderada por Alan Cowen,
neurocientista da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), a partir da
qual uma amostra de 2500 pessoas provenientes dos EUA e da China foi exposta a
ouvir diferentes géneros musicais, incluindo rock, folk, jazz, clássico,
experimental e heavy metal. Foi demonstrado que, independentemente do sexo
da pessoa e de sua cultura, 13 emoções principais foram universalmente
acionadas: diversão, irritação, ansiedade, erotismo, serenidade, sonho,
energia, desejo, desafio, alegria, tristeza, medo e triunfo. Por exemplo, a
música The Shape of You, de Ed Shereen, despertou alegria na maioria das
pessoas, e The Star Spangled Banner, o hino dos Estados Unidos, semeou um
sentimento de triunfo ou orgulho, As Quatro Estações, de Vivaldi, teve um
efeito energizante nos participantes e, grosso modo, as composições de heavy
metal foram tidas como “desafiadoras”.
Podemos então entender que a
música comporta uma tonalidade emocional dominante, que poderá ser identificada
por uma larga maioria das pessoas, mas também poderá conduzir a reações
emocionais diferentes e particulares que são condicionadas pela individualidade
de cada um. Por exemplo, a música poderá ter uma tonalidade emocional dominante
de alegria, que determinada pessoa identifica, mas provocar-lhe irritação. A
reação emocional, assim como qualquer experiência, poderá variar em função do
significado atribuído, personalidade, memórias e cultura.
O mapeamento das emoções
produzidas pelos diferentes géneros musicais gerou uma ferramenta de software
que permite que a pessoa escolha não a música, mas a emoção que deseja sentir
através da música. Esta pesquisa poderá
ter aplicações em terapias psicológicas e psiquiátricas projetadas para evocar
determinadas emoções ou gerar ferramentas para melhorar o humor. Pela via da musicoterapia,
é possível aliviar a tensão e minimizar sintomas de diversos problemas como o
stress. Sabe-se que a música clássica, por exemplo, é amplamente recomendada para
estudantes, pois estimula a aprendizagem e a memória.
As nossas escolhas musicais modulam e alteram as nossas emoções, uma vez que certas zonas do cérebro são ativadas de forma diferente perante construções musicais diferentes e mesmo as respostas fisiológicas podem variar de arrepios, lágrimas, aumento do batimento cardíaco e da atividade psicomotora.
Uma das estruturas cerebrais atividadas pelas perceções musicais é o sistema límbico, que é responsável pelas respostas emocionais, comportamentais e pela memória (afetiva), bem como pela libertação de neurotransmissores, como a dopamina, responsável pela sensação de prazer e bem-estar. Perturbações na regulação do sistema límbico podem gerar perturbações como a depressão e a ansiedade.
A música desperta memórias
autobiográficas, um fenómeno denominado por choque de remeniscência e que
mostra a influência da música na infância e adolescência. Muitas vezes, basta ouvirmos
alguns acordes de uma música associada a esse período da nossa vida, que imediatamente iniciamos uma viagem no
tempo e trazemos ao presente memórias dessa altura, esquecendo por momentos as
preocupações no dia a dia.
Sendo a música um importante
recurso para modular e alterar as emoções, promover a memória e a aprendizagem,
ativar as áreas motora e límbica, que participa na produção de sensações de
prazer e bem-estar, não deixe de aproveitar ao máximo os seus benefícios em
prol do seu bem-estar psicológico, nomeadamente neste período mais conturbado
de crise pandémica.
Nesse sentido, deixamos as
seguintes propostas que poderá desde já colocar em prática para promover o
contacto com as suas emoções através da música:
1)
Através do link www.ocf.berkley.edu/~acowen/music.html#modal
aceda ao software criado por Alan Cowen e seus colaboradores e identifique as suas
emoções ao ouvir os trechos musicais. Experimente o software com outras
pessoas.
2)
Identifique uma música significativa na sua vida,
as emoções que ela lhe evoca e as memórias associadas.
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