É com relativa facilidade que atribuímos
a responsabilidade pelas nossas emoções aos outros. Se por um lado esta
atribuição permite uma demissão da responsabilidade em relação ao que sentimos,
por outro lado, traz consigo a perda de controlo e de comando sobre a nossa
vida na medida que é ao outro que é dado o poder pelas nossas emoções e
reações.
Ao afirmarmos “ Tu irritas-me com
o que dizes/fazes”, estamos a funcionar a partir dessa lógica, numa procura de
um culpado no mundo externo para as nossas emoções, perdendo assim a
oportunidade de olharmos para nós mesmos.
Do mesmo modo, quando alguém
próximo não se sente bem, facilmente também nos podemos sentir responsáveis e
procurar a todo o custo resolver esse sofrimento, como se a solução para essa
dor alheia estivesse nas nossas mãos. Assumirmos a responsabilidade pelas
emoções dos outros poderá também gerar mal estar e culpabilidade e ser igualmente
pouco eficaz, tal como é arranjar culpados para o que sentimos.
Um diferente posicionamento será
afirmar “Eu é que me deixei irritar com aquilo que disseste/fizeste”. Nesta
lógica está implícito que o próprio é o dono das suas emoções e sentimentos e
como tal tem a capacidade de geri-los. Assim, em vez de tentarmos encontrar
culpados, importa aumentarmos a consciência dos nossos sentimentos e reacções
perante determinadas circunstâncias.
Claro que temos o direito e a
legitimidade de manifestarmos o nosso desagrado ou desacordo e algumas emoções
são mesmo inevitáveis em determinadas situações, mas a forma como as gerimos é
da nossa responsabilidade e determinados sentimentos só vão perdurar se a nossa
mente assim o ditar.
Assumir o controlo do que sentimos é exatamente
reconhecer e aprender a lidar com as emoções e não ser escravizado por elas, ou
seja, não viver em reatividade às emoções mas gerindo-as com ponderação e bom
senso. A pessoa pode sentir-se alegre, triste, aborrecida ou
irritada mas em controlo e em função dos acontecimentos da sua
vida.
Este auto-conhecimento leva-nos a
compreender que, apesar de não podermos mudar circunstâncias e as ações de
terceiros, a forma como reagimos depende exclusivamente de nós e como tal
podemos escolher, de entre infinitas possibilidades, a forma de nos relacionarmos
com os acontecimentos da nossa vida.
Artigo publicado na Revista
Psicologia na Atualidade, Psychology Now, nº 48 Jan-Fev-Mar 2020.
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