terça-feira, 24 de março de 2020

As minhas emoções a mim pertencem




É com relativa facilidade que atribuímos a responsabilidade pelas nossas emoções aos outros. Se por um lado esta atribuição permite uma demissão da responsabilidade em relação ao que sentimos, por outro lado, traz consigo a perda de controlo e de comando sobre a nossa vida na medida que é ao outro que é dado o poder pelas nossas emoções e reações.
Ao afirmarmos “ Tu irritas-me com o que dizes/fazes”, estamos a funcionar a partir dessa lógica, numa procura de um culpado no mundo externo para as nossas emoções, perdendo assim a oportunidade de olharmos para nós mesmos.
Do mesmo modo, quando alguém próximo não se sente bem, facilmente também nos podemos sentir responsáveis e procurar a todo o custo resolver esse sofrimento, como se a solução para essa dor alheia estivesse nas nossas mãos. Assumirmos a responsabilidade pelas emoções dos outros poderá também gerar mal estar e culpabilidade e ser igualmente pouco eficaz, tal como é arranjar culpados para o que sentimos.
Um diferente posicionamento será afirmar “Eu é que me deixei irritar com aquilo que disseste/fizeste”. Nesta lógica está implícito que o próprio é o dono das suas emoções e sentimentos e como tal tem a capacidade de geri-los. Assim, em vez de tentarmos encontrar culpados, importa aumentarmos a consciência dos nossos sentimentos e reacções perante determinadas circunstâncias.
Claro que temos o direito e a legitimidade de manifestarmos o nosso desagrado ou desacordo e algumas emoções são mesmo inevitáveis em determinadas situações, mas a forma como as gerimos é da nossa responsabilidade e determinados sentimentos só vão perdurar se a nossa mente assim o ditar.
 Assumir o controlo do que sentimos é exatamente reconhecer e aprender a lidar com as emoções e não ser escravizado por elas, ou seja, não viver em reatividade às emoções mas gerindo-as com ponderação e bom senso.  A pessoa pode sentir-se alegre, triste, aborrecida ou irritada mas em controlo e em função dos acontecimentos da sua vida.
Este auto-conhecimento leva-nos a compreender que, apesar de não podermos mudar circunstâncias e as ações de terceiros, a forma como reagimos depende exclusivamente de nós e como tal podemos escolher, de entre infinitas possibilidades, a forma de nos relacionarmos com os acontecimentos da nossa vida.



Artigo publicado na Revista Psicologia na Atualidade, Psychology Now, nº 48 Jan-Fev-Mar 2020.

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